A situação não está nada fácil para nossa classe! Nunca esteve. A crise econômica e a pandemia escancaram a exploração e a opressão da burguesia. As desigualdades, o machismo, o racismo, a LGBTTQIA+fobia, a xenofobia e o genocídio dos povos indígenas e quilombolas ficam mais evidentes, porque a burguesia utiliza cada vez da opressão destes setores para aumentar seus lucros. Por isso ouvimos e vemos declarações e manifestações de preconceito, discriminação e intolerância desde autoridades como o ex presidente Trump nos Estados Unidos ao presidente Bolsonaro e membros de seu governo no Brasil.
No Brasil, o número de mortos pela Pandemia avança rapidamente e já chega a mais de 250 mil pessoas. A esmagadora maioria destas mortes é de homens e mulheres da classe trabalhadora, vítimas anônimas que, na maioria dos casos, não puderam “ficar em casa” para se protegerem do vírus mortal. Dados oficiais apontam que destas mortes a maioria é negra. E acrescentamos: de pobres.
O aumento da violência policial, principalmente contra jovens negros pobres e contra as comunidades periféricas, onde prisões arbitrárias e assassinatos, inclusive, de crianças, cresceram no último ano. A aflição das mães é total, bem como o sofrimento provocado por estas ações policiais.
As mulheres já têm participado de lutas importantes no Brasil e na América Latina. São maioria nas lutas e suas experiências de auto-organização e de mobilizações mostram a capacidade da nossa classe de governar e de controlar seu destino, a produção e as propriedades, que têm que ser coletivas, através das lutas. As lutas das mulheres e dos setores mais explorados e oprimidos fortalecem o conjunto da nossa classe.
Exemplo disto, em outubro de 2019, a classe trabalhadora do Chile iniciou uma revolta contra os altos preços das tarifas de transporte, os baixos salários e o desemprego, e por um sistema público de Saúde, Educação e Aposentadoria.
O governo burguês de Sebastian Piñera usou o Exército e os Carabineros (a PM de lá) para reprimir a revolta. Cerca de 18 manifestantes foram mortos, entre eles um menino de 4 anos. Centenas de jovens ficaram cegos por causa dos tiros de bala de borracha. Milhares continuam presos, mais de um ano depois da rebelião. E a luta por lá continua… Desde então, tem sido organizada uma Campanha Internacional pela Libertação dos Presos e Presas do Chile.

Em nossa última edição do Palavra Operária (leia online clicando aqui), na coluna Voz dos Oprimidos, buscamos mostrar como a violência e a repressão tem assolado a periferia aqui em nosso país e de como é necessária a unidade entre os de baixo para impedir que isso continue ocorrendo. Diariamente, lemos e ouvimos relatos (quando não presenciamos ou somos nós mesmos as vítimas) de crianças e jovens mortos e/ou presos injustamente pelo Estado. Para muitas famílias, além de enfrentar as mazelas da pobreza, do desemprego, de moradias precárias, tudo em meio a uma pandemia que mata muito mais os pobres e trabalhadores que moram nas periferias, outro problema crônico que gera muita preocupação, sobretudo para a juventude negra e as mães da classe trabalhadora, são as prisões forjadas/injustas e mortes pelas balas da PM racista.
O GOI/Palavra Operária, desde o ano passado, em unidade com outros movimentos e ativistas (como a Rede de Proteção Contra o Genocídio, que tem acompanhado casos de prisões forjadas por muitos anos), vem acompanhando e se solidarizando com a luta de duas famílias da zona sul de São Paulo que lutam para provar a inocência e exigir justiça para jovens presos injustamente por crimes que não cometeram.

Em uma conversa que tivemos com dona Simone e dona Edilaine, duas mães e mulheres trabalhadoras que mesmo não se conhecendo, compartilham da mesma angustia e sofrimento diante da prisão forjada de seus filhos, ambos acusamos pela PM de envolvimento com crimes de interceptação e roubo de carga em regiões diferentes da periferia da zona sul de São Paulo, elas nos relataram como tem sido a rotina das famílias e como tem se organizado para lutar. Além de Simone (mãe do Alexssandro) e Edilaine (mãe do Rafael), com quem tivemos a oportunidade de conversar individualmente para essa entrevista, as mães de Augusto (Josefa), Diego (Sheila), Kelvin (Célia), Erick (Liliane), Rafael (Silvana) também tem cumprido um papel fundamental na luta e mobilização por justiça e liberdade aos jovens do Parque do Engenho e do Jardim Capela/Jardim Aracati. Todas essas mães e mulheres são um grande exemplo para nossa classe e para a periferia!
Poderiam nos explicar o que houve e por qual motivo seus filhos estão presos? Alguma novidade sobre o caso?
Simone: “O que houve aqui é… houve um roubo de carga próximo de casa. Próximo ao colégio Iracema (EMEF Iracema Marques da Silveira), aonde se encontravam os meninos, que era o Alexssandro, Kelvin e o Erick. Eles estavam dentro da escola, não sabendo de nada. E aí, entra a Polícia Militar para uma suposta averiguação dentro do colégio e encontra os meninos. Aí eles pedem para os meninos parar… eles olham e se assustam, eles (a PM) atiram e eles (os meninos) correm. Eles correm sentido fundos da escola, aonde a área já estava cercada devido a este roubo. E aí, supostamente dentro do matagal, os policiais encontram eles e tiram eles do matagal falando que eles estavam descarregando a carga, uma carga com umas caixas de dentro de um matagal para um carro preto, um fiesta. E isso não procede. Pois as imagens que arrumamos não mostra nada disso. Então foi isso que ocorreu.”
Edilaine: “Sou mãe do Rafael. Na manhã do dia 11 de Janeiro aconteceu um assalto próximo a casa aqui. Ele se encontrava na casa de um amigo que eles estavam dormindo ainda, por volta deste horário, quando aconteceu este assalto. E um dos rapazes que participou, ele correu e invadiu a residência. Os policiais chegaram e pediram para os meninos saírem da casa e levantarem das camas, falando que iam fazer uma averiguação. Falando que a vítima iria fazer o reconhecimento e eles iriam fazer a averiguação. Deste então, eles levaram eles para a delegacia, a gente não teve mais nenhum acesso a eles, a não ser por volta das 18h, quando foi anunciado que eles estavam presos por assalto e que iam ser transferidos para o CDP. Até então, eles continuam presos, aguardando audiência.”
Como estas prisões atingiram suas famílias e suas vidas?
Simone: “De repente, nos vimos com nossa família destruída. Tiraram um ente querido da gente né? Durante esses dois meses eu fiquei um mês sem ver ele. Um filho que nunca é de sair, dormir fora. Entendeu? Então isso afetou muito psicologicamente a gente né? E acredito ele também! Por conta que meu marido estava de férias. A gente não aproveitou nada das férias dele. Ele ficou doente, né? Emagreceu. Ficamos tomando calmantes. Eu fiquei também uns dias em casa, afastada do serviço. Por conta que eles me apoiaram nestes dias, nos primeiros dias. Mas depois eu tive que voltar a trabalhar porque a vida seguia. Não podia parar minha vida. Ele precisava de mim, né? Até para ajudar ele eu tinha que tá trabalhando. E assim… o que a gente tinha de economia, a gente teve que gastar por conta que precisava pagar as coisa né? Gastamos o que tinha, e o que não tinha também, pra falar a verdade. E assim… isso afetou a cabeça dele, porque agora a gente tá lutando pra limpar o nome dele. E começar a trabalhar. Agora depois do julgamento a gente vai entrar com essa ação pra limpar o nome dele né? Por que ele tem 18 anos, não pode estragar a vida assim, entendeu? E é isso, afetou psicologicamente. Agora ele tá em casa, mas o psicológico dele ainda fica meio assim… ele fica contando várias coisas que aconteceram lá. Que ele foi privado, tipo assim, que ele não tinha muito o que comer né? Em casa, sempre ele teve uma vida diferente, entendeu? E isso ficou marcado na vida dele.”
Edilaine: “Pra nós famílias, essas prisões atingiu como uma catástrofe. Por que, são rapazes que trabalham, tem uma família, são a base da casa. São bons filhos, sempre presentes, ajudando a família. E pra nós a prisão causou, especialmente pra mim, uma desilusão, uma tristeza tremenda, porque, inclusive, até eu vou passar amanhã no psiquiatra, pois estou psicologicamente abalada com tudo isso. Jamais imaginei que meu filho fosse passar por esta situação. E nenhuma mãe espera que seu filho passe por isso, como a gente tá passando agora.”
Vocês tem se mobilizado para exigir justiça e liberdade aos inocentes. Como mães, o que diriam para quem está passando por esta mesma situação?
Simone: “A gente uniu as famílias, né? Fomos atrás da Ouvidoria. O pessoal nos apoiou também… isso também ajudou para liberar os meninos né? E o que aconteceu? Agora a gente tá lutando pra que isso seja resolvido o mais breve possível né? A gente foi, fizemos estes protestos, fomos atrás das câmeras, fizemos o papel que a polícia não fez né? De investigação. E conseguimos chegar até a Ouvidoria e eles nos apoiaram também. Agora a gente tá esperando o julgamento. E as mães que tão passando por isso tem que unir né? Pra ter a vitória e a liberdade dos filhos. Isso é importante!”
Edilaine: “Nós temos nos mobilizado da seguinte forma: temos buscados as redes sociais, a imprensa, os coletivos de imprensa, a mídia, temos feito passeatas. Fomos na Ouvidoria da polícia tentar conversar, pra eles entrarem no caso. Estamos nos mobilizando através das redes sociais (Facebook, Whatsapp, Instagram), jornalismo e todas as pessoas que tem nos ajudados, as associações, os moradores do bairro mesmo, é… estamos contando com a ajuda da população pra tá fazendo justiça. E nos unimos a outras famílias que também tão passando pela mesma situação, com os filhos sendo presos injustamente, acusados de roubos que não cometeram, e uma família tem apoiado a outra nesta luta constante que tá sendo nosso dia a dia, pra tentar provar a inocência deles. Desde então, desde o momento que eles foram levados para a delegacia, a única coisa que a gente sofreu foi represália, as pessoas humilharam, maltrataram a gente, e nossos filhos foram tratados como se fossem verdadeiros bandidos, enquanto os verdadeiros marginais continuam soltos sem a polícia agir corretamente. A única coisa que a gente quer, que a gente tá pedindo, é a justiça.”






Estes relatos nos revelam a importância da mobilização, luta e unidade entre as famílias da classe trabalhadora. Revelam, sobretudo, a força das mulheres na periferia, que se organizam e lutam para impedir que casos como o de seus filhos se repitam, dando um grande exemplo para toda a nossa classe.
Por isso, não hesitamos em estar com elas em suas lutas e apoiá-las. Infelizmente, esta não é só a realidade de São Paulo, mas de todo o Brasil e, inclusive, de outros países da América Latina, como relatamos acima com o caso dos presos políticos no Chile, onde também a luta que é encampada, sobretudo, pelas mães e mulheres da classe trabalhadora.
Nós do GOI/Palavra Operária, seguiremos acompanhando e divulgando as mobilizações por justiça e liberdade aos inocentes, denunciando estes e outros casos que ocorrerem, construindo junto a outros setores do movimento organizado da classe trabalhadora na periferia a unidade necessária para exigir e enfrentar a impunidade da PM e do Estado, que atuam desde sempre com muita truculência, preconceito e racismo nas quebradas.
Todo apoio e solidariedade às lutas da nossa classe!
Basta de prisões políticas e forjadas!
Liberdade já aos inocentes!
Acesse as páginas criadas pelas famílias para divulgar sua luta por justiça:
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Um comentário em “Mães da periferia se organizam para provar a inocência de seus filhos presos pela PM e dão exemplo de luta e resistência!”