Ariel Quiroga
O Secretariado Executivo do PIT-CNT (Plenário Intersindical de Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores), em 5/8 passado, revelou o conteúdo da “necessária reforma da Previdência” que o presidente Lacalle apresenta aos demais partidos políticos, e a decisão de rechaçá-la porque não é nada mais do que uma reforma da previdência, sem aspas.
Este anteprojeto de lei ratifica o objetivo do capital financeiro de aumentar a idade para se aposentar e também ratifica o outro instrumento que este tem para esvaziar o BPS (Banco de Seguridade Social), a AFAP, ou seja, os “fundos de pensão”.
Mais uma vez se confirma o que Leon Trotsky enfatizou em “A Agonia do Capitalismo e as Tarefas da Quarta Internacional”, que “as leis da luta de classes são mais fortes do que os aparatos”.
Por mais quedurante meses tenham escondido o conteúdo do que estabelece o artigo 393 da LUC (Lei de Consideração Urgente), “a necessária reforma da Previdência Social”, eles são obrigados a dizer a verdade, de que se trata do desmantelamento do BPS, uma das maiores conquistas da classe trabalhadora neste país, o que a reforça como “classe para si” no confronto com os capitalistas, com seu Estado e seus governos.
Necessariamente, agora, outro Lacalle, como em 28/8/94, tem que enfrentar milhares de trabalhadores em atividade e já aposentados. E para bloquear qualquer mobilização deles que coloque em risco a aprovação deste anteprojeto de lei, busca fazer um acordo com os outros partidos membros da coalizão governamental e com a oposição, a Frente Ampla.
Tendo visto “os pés do valete”(*), como dizemos os uruguaios, mais uma vez é prioritária a responsabilidade do PIT-CNT, como marco organizativo que agrupa como classe a milhares de trabalhadores, de preparar a mobilização para rechaçar essa nova tentativa de desmantelar o BPS.
Não nos surpreende que a liderança burocrática e reformista do PIT-CNT, em seu Congresso do ano passado, não tenha colocado sobre a mesa sua participação na “Comissão de Especialistas”, nem que, naturalmente, não tenha proposto desde então preparar a mobilização para rechaçar esta reforma da previdência.
Mas, sim, é incompreensível que os militantes do “Grupo dos 8” e os da “Coordenação para a Mudança”, dos bancários, não tenham imposto que precisamente esses dois pontos fossem discutidos em todas as sessões do Congresso.
Aí têm o “Projeto Alternativo” apresentado por ATSS, e que apoiaram, a liderança burocrática e reformista do PIT-CNT colocou-o em seus bolsos, pisoteando assim as resoluções do Congresso.
Em 2021, mais de 400 mil trabalhadores ativos votaram para ratificar seus candidatos ao Conselho do BPS, e voltaram a demonstrar essa força quando no último 27/8 se alcançaram os votos para revogar os 135 da LUC, proposta pelo PIT-CNT.
Só esta força de milhares mobilizados é que pode romper o “acordo nacional” proposto pelo governo aos outros partidos, sendo esses milhares determinantes para decidir que tal reforma da previdência não seja aprovada, e para que, mais uma vez, o capital financeiro seja derrotado.
Em 28/8/94, quando Lacalle pai quiz fazer o mesmo, e teve o apoio de Seregni, Tabaré Vazquez e Astori, e o PIT-CNT resolveu… liberdade de ação !!, e a Direção Política da Frente Ampla não se pronunciou, 64% rejeitaram a primeira tentativa de desmantelar o BPS.
Agora, é tão grande o gato que querem passar por lebre, que a liderança burocrática e reformista do PIT-CNT já se pronuncia pelo seu rechaço “não descartando nada a priori”, como disse Marcelo Abdala, presidente do PIT-CNT, advertindo assim o governo e a própria Frente Ampla de que a “negociação” deve levar em conta que a central é o principal ator da situação política que está se abrindo.
Mais uma vez se abre para aos militantes operários revolucionários a possibilidade de intervir no movimento de milhares que o PIT-CNT pode agrupar como classe, para explicar e ajudar a esclarecer que é possível que esta força quebre esta nova coalizão que o governo quer instrumentar, uma nova operação de “frente popular”, como nós trotskistas a chamamos, para dar um passo adiante no entendimento de que fora desse movimento de milhares que agrupa o PIT-CNT NÃO HÁ NADA.
(*) No Uruguai, os jogos de cartas são com o baralho espanhol e a carta que vale dez pontos é chamada de “valete”, e como é representada por uma figura medieval, quando as cartas criam “orelhas” no jogo, a primeira coisa que se vê são os pés, ou “as patas”, daí a expressão, “agora se veem os pés do valete”.
[Imagem: Ato do PIT-CNT no Dia dos Trabalhadores. Foto: Francisco Flores]