Artigo publicado no jornal Palavra Operária nº 10 (abril-maio 2021)
A indústria brasileira está sendo arrasada pela crise capitalista e pela política econômica de Guedes-Bolsonaro. Grandes corporações, como a FORD e a Sony, anunciam de um dia para o outro o fechamento de suas fábricas no país. A LG vai fechar sua fábrica em Taubaté e transferir a produção para a Zona Franca de Manaus, causando também o fechamento das fornecedoras Blue Tech, Sun Tech e 3C.
Quando não fecham as portas, os patrões fazem demissões em massa, como vem ocorrendo há anos na GM, Embraer, Renault e várias outras empresas. O fechamento e as demissões nas grandes empresas destroem empresas e empregos em toda a cadeia de produção, comércio e serviços.
Diante das demissões, a burocracia sindical se limita a fazer apelos inúteis aos governos e às matrizes das transnacionais para que protejam os empregos das trabalhadoras e trabalhadores, sem nenhum resultado. O máximo que conseguem são acordos para pagamento de indenizações aos demitidos. Mas, nas pequenas e médias empresas, os funcionários recebem no máximo o que manda a lei, e em muitos casos nem isso, pois muitas empresas falidas simplesmente “dão o cano” nos trabalhadores.
Recentemente as operárias e operários da LG, Blue Tech, Sun Tech e 3C, no Vale do Paraíba, fizeram uma greve que durou cerca de 30 dias. Uma luta importante e sofrida, mas que não conseguiu barrar as demissões e o fechamento destas empresas, apenas melhorar o acordo de indenização dos demitidos. 1.130 trabalhadoras e trabalhadores foram colocados no olho da rua, em plena crise econômica e pandêmica.
O desemprego é um flagelo que os capitalistas impõem à classe trabalhadora no mundo todo. E muitos se perguntam: como podemos enfrentar as demissões e garantir nossos empregos, que são a fonte do nosso sustento e de nossas famílias? Na vizinha Argentina, temos um exemplo de luta operária contra as demissões: a ocupação de fábricas e empresas.
O caso da fábrica La Nirva
Vamos contar aqui, resumidamente, o caso da fábrica de alfajores La Nirva, de Buenos Aires, onde trabalham 65 pessoas, a maioria mulheres.
Elas iniciaram sua luta no ano passado, pelo pagamento dos salários atrasados, após meses de parada da produção e ameaças de falência da empresa. Acamparam nos portões da empresa para impedir que o patrão retirasse as máquinas e matérias primas na surdina. E pediram a solidariedade de trabalhadores de outras empresas e dos sindicatos e movimentos populares, que as ajudaram a divulgar a luta, a enfrentar as ameaças do patrão e da polícia, e a fazer uma campanha para arrecadação de dinheiro e mantimentos para as operárias.

O Sindicato dos Pasteleiros, categoria a que pertencem as operárias, tentou fazer um acordo traidor com os donos da empresa, para reduzir o salário em 30% e não pagar os salários atrasados, o que foi repudiado pelas operárias em luta. Após muita pressão, o Ministério do Trabalho ordenou o pagamento dos salários atrasados. Mas, a empresa seguiu enrolando e não pagou nada.
Aí, as operárias tomaram uma decisão muito ousada: ocuparam a fábrica! E fizeram esta declaração: “Depois de mais de um mês de acampamento conseguimos entrar na fábrica e recuperar nossos postos de trabalho!”. O patrão contratou capangas para tentar tirar as trabalhadoras da fábrica, mas foram repelidos. A luta em defesa dos empregos passou a ser dentro da fábrica. Em novembro de 2020, as operárias formaram uma cooperativa para seguir produzindo, administrando e comercializando os produtos da fábrica.
A fábrica foi recuperada e colocada sob controle das trabalhadoras. Desta forma, através da luta no chão da fábrica e da solidariedade de outras categorias da classe trabalhadora, as operárias da La Nirva conseguiram manter seus empregos e sua fonte de subsistência. Agora seguem na luta, exigindo a estatização da empresa. Além da La Nirva, muitas outras fábricas e empresas foram ocupadas e recuperadas pelos próprios trabalhadores na Argentina, desde a grande crise que se abateu sobre o país, nos anos 2000.
Este exemplo de luta precisa ser conhecido pelos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. Ele mostra que é possível, através da luta organizada, impedir o fechamento das fábricas e empresas e manter nossos empregos. Para isso, temos de questionar a propriedade dos patrões sobre as empresas, “direito” que eles colocam acima da vida da classe operária, que é quem de fato produz toda a riqueza. Como diz a frase: ”Se a classe operária tudo produz, a ela tudo pertence”.
Para conhecer mais detalhes da luta das operárias da La Nirva, visite sua página no Facebook: https://www.facebook.com/trabajadoras.lanirva.9