“Se eu fecho os olhos, minha mente desenha você
Tapo os ouvidos, mas consigo escutar sua voz
Só de pensar que nunca mais eu vou te ver
Dói, dói, dói
Que mundo é esse tão cruel que a gente vive?
A covardia superando a pureza
O inimigo usa forças que oprimem, oprimem
É, vai na paz, irmão, fica com Deus
Eu sei que um dia eu vou te encontrar
Valeu menor, espera eu chegar”
MC Kevin O Chris e MC Caja
Neste domingo, 16/5, centenas de pessoas, entre familiares, amigos, moradores da comunidade do Jd. São Luiz e ativistas da região realizaram mais um protesto contra o assassinato covarde de Gilberto, o Giba (ou Gibinha, como o chamava dona Edna, sua mãe). O ato foi organizado pela família e a Rede de Proteção Contra o Genocídio, grupo de articuladores que desde o início do ocorrido vem dando apoio, suporte e ajuda jurídica a família em relação a denúncia do caso.
O jovem negro era um tatuador e ajudante de pedreiro, marido e pai de uma criança de 3 anos. Ele foi assassinado na tarde de 14/5 com 6 tiros por um Policial Civil, quando passava em uma viela para comprar refrigerante e depois ir ao trabalho. A Policia realizava uma operação contra o tráfico de drogas e alegam ter ceifado a vida de um inocente pois ele supostamente “teria ameaçado os policiais com uma arma de brinquedo”.

Era visível nos olhos das pessoas, nas palmas que ecoaram pelas ruas, dos moradores que saíram de suas casas para acompanhar a mobilização no Jd. São Luiz que Gibinha era imensamente querido na comunidade onde morava. “Se meu irmão fosse bandido, esse tanto de gente estaria aqui hoje?”, gritou um dos irmãos de Gilberto ao final do ato na Favela da Felicidade. Para todos que estavam ali presentes não há dúvidas que seu assassinato foi forjado, em mais uma prova da ação truculenta, racista e despreparada de Policiais na quebrada. Não é por que somos favelados, andamos em vielas que somos BANDIDOS!
Na longa caminhada que fizemos, palavras de ordem como “não confia não, a polícia matou mais um irmão” ressoaram em uníssono. Embora tenha sido uma linda homenagem ao Giba, o protesto foi marcado também pela tristeza e angústia de familiares e amigos com a injustiça e o racismo do Estado, que além de tirar de uma mãe de favela mais um filho, tratou Gilberto como indigente no IML, liberando seu corpo para que a família pudesse se despedir dele somente um dia após o crime.

Dona Edna, em um desabafo e discurso emocionado durante o ato, disse as seguintes palavras, que soaram como um soco no estômago e fizeram todos ali chorar: “ele sofria, batia marreta e quebrava as coisas para poder ganhar o sustento do filhinho dele (…)”. “Eu sei que nada vai trazer o meu menino de volta pra mim, ninguém vai trazer o meu menino pra mim, só que eu só quero justiça!”. Ela completou seu discurso dizendo “a dor que eu tô sentindo não se compara nem com a dor da hora do parto”. Durante todo o percurso da manifestação, amparada pelos filhos, a mãe de Giba caminhou lado a lado aos manifestantes agarrada a uma foto dele.

Nós do GOI/Palavra Operária estivemos presentes na manifestação. Queremos deixar aqui nossa mais sincera solidariedade a dor e luta da família e amigos de Gilberto. Não nos calaremos diante da repressão e dos crimes do Estado. Seguimos em luta e mobilizados, não medindo esforços, para exigir justiça e o fim do genocídio da juventude preta, pobre e trabalhadora nas periferias. Enquanto houver mortes, a favela não irá deixar de lutar. Desceremos do morro e tomaremos o asfalto!
Veja a fala da dona Edna durante o ato:
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