Presente de grego

A vacinação de uma parcela das/os trabalhadores da Educação não vai impedir que a volta às aulas presenciais seja mais um fator de ampliação e descontrole da pandemia

Nota do GOI

A volta às aulas presenciais foi decretada pelo governador de São Paulo, João Dória (PSDB) e seu secretário da Educação, Rossieli Soares, ao mesmo tempo em que o recuo da Fase Emergencial para a Fase Vermelha, ampliando a abertura das atividades econômicas. Estas decisões foram tomadas contra as recomendações da quase totalidade dos sanitaristas e cientistas, inclusive do próprio Centro de Contingência de controle da pandemia que assessora o governo do Estado. Ou seja, no melhor estilo negacionista de Bolsonaro, Dória amplia a abertura da economia e reabre as escolas na contramão da Ciência, do bom senso e de qualquer sentimento humanitário.

A pandemia do coronavírus está fora de controle no Estado de São Paulo e em todo o país, batendo recordes de mortes e infecções, em meio ao colapso do Sistema Público de Saúde, com milhares de pessoas morrendo nas filas das UTIs dos hospitais abarrotados de gente. No dia 6 de abril, foi rompida a marca de mais de 4000 mortos diários no país, mais de 1/3 destes no estado de São Paulo. No dia em que escrevemos este artigo (14/4), quando se inicia a volta das aulas presenciais, a média de mortes no país na semana anterior fora de 3.125 pessoas, a maior já registrada, e 358.718 pessoas já haviam perdido a vida vítimas da Covid-19, apontando para mais de 5000 mortes diárias nas próximas semanas. Enquanto isso, apenas 11,54% da população havia recebido a primeira dose da vacina, e 3,64% a segunda dose.   

A justificativa dada pelo governador e seu secretário da Educação para a reabertura das escolas neste quadro catastrófico da pandemia é o início da vacinação dos profissionais da Educação que tem 47 anos ou mais de idade. Mas, a vacinação desta parcela das/os trabalhadores da Educação não vai impedir que a volta às aulas presenciais seja mais um fator de ampliação e descontrole da pandemia, pois vai contribuir de forma significativa para diminuir o isolamento social, medida imprescindível para a contenção do coronavírus.

Este fato científico foi explicado pelo próprio assessor e “braço direito” de Dória, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, numa entrevista ao jornal Valor, em 5/4: “Urgente neste momento é combater a epidemia. A vacina é um recurso adicional. Mas o combate direto à epidemia se faz com a diminuição da transmissão. E a transmissão será diminuída com a tomada de medidas amargas de afastamento social. Se você tivesse o poder mágico de colocar toda a população por 14 dias dentro de casa, a pandemia acabaria. Esse é o desafio que as pessoas, as autoridades descartam de começo porque falam que é impossível. Se é impossível, não tem o que fazer e vamos ter que continuar com o número de mortes que estamos vendo hoje. Mas não se pode, por princípio, dizer que é impossível. Porque assim, estamos admitindo que vamos continuar tendo esse número de casos, de internações e de óbitos.” (grifos nossos).

É compreensível o sentimento de alívio da parcela da categoria que está sendo vacinada, dada a avalanche sem fim de más notícias, sobretudo de mortes, sequelas e infecções pelo coronavírus que assolam nossas famílias, vizinhos, colegas, amigos e a classe trabalhadora em geral. Mas, é preciso alertar que a vacinação por si só não vai impedir que estas trabalhadoras e trabalhadores sejam infectados pelo coronavírus, ou que possam infectar colegas, estudantes e familiares nas escolas que, ao contrário do que afirma o governo e suas mídias, seguem sem nenhuma segurança sanitária, com salas de aula sem ventilação, com vitrôs emperrados; faltam funcionários para garantir a higienização das salas de aula, banheiros, corredores e refeitórios; faltam máscaras eficientes (PFF2) e organização para o uso correto das mesmas, entre outras deficiências. 

Acrescente-se a isso que não há previsão de quando serão vacinadas as trabalhadoras e trabalhadores da educação com idade inferior a 47 anos. Não por mera coincidência, nesta faixa etária se encontram as/os jovens precarizadas/os (categoria O, eventuais), profissionais recém concursados, trabalhadoras terceirizadas da limpeza e da cozinha, membros do quadro de apoio, que seguirão sendo empurrados para a contaminação nas escolas, sem vacina nem segurança sanitária, sob o chicote dos burocratas da educação (supervisores/as, diretores/as, vices, coordenadores/as), os “paus mandados” do governo responsáveis diretos pela aplicação da política genocida de Dória nas escolas.

Estes fatos desvendam o verdadeiro caráter da vacinação antecipada de parte dos profissionais da Educação: um presente de grego. Para dourar esta pílula venenosa, Dória e Rossieli elevaram a Educação a atividade essencial, demonstrando toda sua sordidez: essa “essencialidade” do trabalho das/os trabalhadoras/es da Educação não é reconhecida quando impõem salários congelados, contratos precários, falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) para as tarefas de limpeza e cozinha, aumento da idade para a aposentadoria, e outras mazelas que sofre a categoria profissional. A Educação é tornada “essencial” apenas para justificar o genocídio velado que está sendo realizado nas escolas.

Na mesma entrevista citada acima, Dimas Covas descreve as dificuldades do Instituto Butantan em aumentar a produção de vacinas, e estima que até o meio do ano serão vacinados no máximo 50 milhões de pessoas, menos de ¼ da população brasileira. Isso mostra que a vacinação antecipada de uma parcela dos profissionais da Educação, além de não assegurar a própria segurança da categoria profissional e da comunidade escolar, contribui também para o atraso na vacinação da população que deveria ser priorizada: idosos, portadores de comorbidades e trabalhadoras e trabalhadores dos serviços essenciais, que desde o início da pandemia, há mais de um ano atrás, nunca deixaram de trabalhar presencialmente nas empresas e no serviço público, sem as condições sanitárias necessárias, enlatados em massa dentro dos ônibus, trens e metrôs, contaminando-se e levando o coronavírus para dentro de suas casas. Estamos falando das trabalhadoras e trabalhadores dos cemitérios, comércio, transporte coletivo, limpeza urbana, trabalho doméstico, postos de gasolina, Correios e entregas por aplicativos, bancos, fábricas e inúmeras outras que seguem sem perspectivas de vacinação.  

A política de Dória está sendo aplaudida por todas as entidades que defendem a abertura irrestrita das escolas durante a pandemia, como o movimento Escolas Abertas, a Fundação Lehmann, e todos os empresários do ensino privado e defensores da privatização do ensino público. Isso mostra a serviço de quem está a política genocida e privatista de Dória/Rossieli, que difere da política descaradamente genocida de Bolsonaro apenas na hipocrisia e no cinismo com que é apresentada por meio da manipulação de informações e números da pandemia, e da manipulação política da angústia e da esperança das trabalhadoras e trabalhadores.   

Para enfrentar a política genocida e privatista de Bolsonaro, Dória e da esmagadora maioria dos governadores, prefeitos e demais governantes em todo o país, é preciso lutar pela unidade da classe trabalhadora, tarefa que devemos exigir das direções sindicais e políticas que falam em nome da classe trabalhadora e do povo pobre:  

Paralisação das atividades econômicas por 30 dias, com garantia dos empregos, salários e direitos de todas/os trabalhadoras/es e auxílio emergencial de 1 salário mínimo para todas/os desempregadas/os e subempregadas/os.

Plano Nacional de Vacinação cientificamente organizado, que garanta Vacina para Tod@s, priorizando as faixas etárias e trabalhadoras/es mais vulneráveis em condições de saúde e econômicas, garantido pela quebra de patentes das vacinas e intervenção na indústria para garantir a produção.

Retorno às aulas presenciais só quando a pandemia estiver controlada e a maioria da população vacinada. Até lá, o Estado deve garantir:

  • Tablets e Chips com internet para todas as alunas e alunos participarem efetivamente do Ensino Remoto com segurança.
  • Condições para o trabalho remoto de todas e todos os profissionais da Educação (notebooks, tablets, internet de qualidade).
  • Cartão alimentação para famílias das alunas e alunos da rede pública, em situação de vulnerabilidade (desemprego).
  • Reforma urgente das escolas, que garanta a abertura de janelas de verdade que permitam a circulação necessária de ar dentro dos ambientes escolares (salas de aulas, banheiros, refeitórios, etc.).
  • Garantia de Equipamentos de Proteção Individual (máscaras N95 ou PFF2) e material de higienização pessoal e limpeza para todas e todos dentro das escolas.
  • Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA – em todas as escolas, para garantir o cumprimento de um rígido protocolo de segurança sanitária, identificar casos de Covid, problemas que precisam ser solucionados e um ambiente escolar seguro.
  • Acesso a testes para Covid19 na rede pública de Saúde, que permitam o monitoramento e rastreamento dos casos que surgirem.

Fora Bolsonaro, Mourão e o Congresso corrupto!

Só a classe trabalhadora mobilizada pode parar o genocídio!

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