W. Ioffe
A vacinação em massa da população é uma das medidas mais urgentes que deveria estar sendo implementada a todo vapor. Porém, a vacinação no Brasil ainda não se iniciou, por responsabilidade única dos governantes.
Bolsonaro, com seu negacionismo genocida, colocou todos os obstáculos para impedir que o Ministério da Saúde organizasse um plano nacional de vacinação, através da compra antecipada de vacinas e da montagem da infraestrutura e logística necessárias para uma campanha urgente. Por outro lado, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), tentando tirar proveito da inépcia de Bolsonaro para se cacifar como candidato à presidência em 2022, manipula de forma irresponsável e inescrupulosa a utilização da vacina Coronavac, buscando apresentá-la como a “salvação nacional” contra a pandemia, se aproveitando do medo e da esperança da população.
Depois de adiar por semanas a divulgação dos dados dos estudos feitos pelo Instituto Butantan, no dia 7 de janeiro Dória e Dimas Covas (diretor do instituto) convocaram a imprensa para anunciar que a eficácia da Coronavac seria de 100% para prevenção de casos graves e de 78% para casos leves de Covid-19. Todavia, o Instituto não divulgou as estatísticas para comprovar estes percentuais, nem para a comunidade científica, nem para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Pressionados, viram-se obrigados a divulgar, uma semana depois, um novo número: a eficácia real da vacina seria de 50,39%, apenas 0,39% acima do limite mínimo de eficácia aceitável. E ficou demonstrado que os tais 100% e 78% de eficácia são “estatisticamente irrelevantes”, quer dizer, falsos. Cientistas sérios questionam que os cálculos corretos dos números apresentados indicam que o índice de eficácia estaria abaixo de 50%. Até o momento em que fechamos este artigo, Covas e Dória seguem sem divulgar os dados completos do estudo, exigindo que a Coronavac seja aprovada
sem levar em conta os protocolos científicos, numa evidente chantagem sobre a Anvisa e a comunidade científica. Infelizmente, médicos e cientistas, na maioria bem intencionados e preocupados com o combate à pandemia, têm se deixado instrumentalizar pela politicagem do farsante do PSDB. Mas, a falta de transparência e de rigor científico apenas fortalecem a desconfiança em relação à Coronavac e demais vacinas, incentivada pelo negacionismo bolsonarista. O planejamento da campanha de vacinação exige um trato científico da questão e não a manipulação política da Ciência.
Médicos e cientistas honestos que não se deixam intimidar pela chantagem política de Dória e Covas explicam que a baixa eficácia da Coronavac vai exigir que quase 100% da população seja vacinada para que se consiga a “imunidade de rebanho” necessária para conter a pandemia. O que, pelos planos de campanha de vacinação dos governos estaduais e federal, só será atingido, na melhor das hipóteses, no final deste ano ou no início do próximo. Ou seja, ainda vamos enfrentar a pandemia por meses e meses, inclusive com novos picos como o que estamos vendo neste início de ano, com catástrofes como a ocorrida em Manaus, causadas pela política criminosa de Bolsonaro e demais governantes.
A vacina é uma arma decisiva para enfrentar e pôr fim à pandemia. Mas, só será eficaz na corrida contra as infecções e mortes causadas pelo coronavírus se for combinada com medidas de isolamento social e de fortalecimento da infraestrutura do SUS.
É imprescindível combinar o início da vacinação com a imposição de um verdadeiro lockdown na economia para diminuir o novo crescimento vertiginoso do coronavírus, como já está acontecendo com os novos recordes de contágios, internações e mortes em todo o país. É urgente aumentar os investimentos no SUS para garantir e ampliar a infraestrutura (leitos, respiradores, oxigênio, etc.) e, principalmente, para garantir a saúde das trabalhadoras e trabalhadores da Saúde, com a contratação de mais funcionários e a redução da jornada de trabalho (sem redução de salários e direitos) e o rodízio destes profissionais, que já estão exaustos após meses de trabalho em condições precárias e inseguras nos hospitais e pronto socorros.
Mas, nem Dória, nem os demais governadores e prefeitos, menos ainda Bolsonaro, se dispõem a impor uma paralisação na economia que possa prejudicar os lucros dos capitalistas, banqueiros e especuladores da bolsa e da dívida pública. Não se dispõem a investir nada mais do que os míseros 5% do orçamento federal e 1% do orçamento do estado de São Paulo que Bolsonaro e Dória gastaram no ano passado com a Saúde Pública. O que vão seguir fazendo neste ano é avançar nos cortes em investimentos sociais, aumentando o sofrimento da classe trabalhadora e do povo pobre para salvar os lucros dos grandes capitalistas.
E, diante da política criminosa de Bolsonaro e Dória a serviço da exploração patronal, o que faz a “esquerda oficial” (PT, PCdoB, PSOL, centrais sindicais, sindicatos, movimentos, mandatos populares, etc.) que fala em nome da classe trabalhadora? Alinha-se ao “campo” de Dória, silenciando sobre suas mentiras e chantagens, para supostamente combater Bolsonaro. Da mesma forma que no início da pandemia, quando a “esquerda em home office” seguiu a política do “Fique em casa” (que na prática nunca foi garantida para mais de 80% da classe trabalhadora!), agora se alinha à política da “salvação pela vacina” com a qual a burguesia quer seguir enganando e matando a classe trabalhadora.
É preciso ir à luta por um Plano Nacional de Vacinação sob controle da classe trabalhadora, pela imposição de um lockdown com garantia dos empregos, salários e direitos, e pelo pagamento do auxílio emergencial para todos os necessitados, até o final da pandemia.
Anexamos em seguida alguns artigos com informações sobre a questão da vacina:
Um comentário em “Vacina Coronavírus: entre o negacionismo e a manipulação política”