O vírus da crise capitalista

Reproduzimos a declaração da Corrente de Trabalhador@s Revolucionári@s, da Argentina, organização com a qual o GOI mantém relações internacionais.

Nosso povo e o mundo inteiro estão enfrentando uma das maiores crises sanitárias da História. O Coronavírus, cujas origens despertam grandes suspeitas, deixa nítida a verdadeira face do Capitalismo: a barbárie e o extermínio físico da humanidade.

Com a pandemia, tem se demonstrado o fracasso das receitas do Imperialismo e do Neoliberalismo, a privatização da saúde, da ciência e a tecnologia a serviço da guerra e da destruição. Para nós, os socialistas e revolucionários, não se trata de um “castigo divino”, nem uma mensagem da natureza, se não uma consequência deste sistema capitalista em decomposição, onde as riquezas das grandes multinacionais, bancos e organismos de crédito, como o FMI, valem muito mais que a vida de milhares de trabalhadores e pobres que vivem em condições de fome e miséria.

É por esta razão que consideramos que a única solução para esta crise sanitária mundial e para evitar o genocídio massivo dos povos, é que nos, trabalhadores de todo o mundo, devemos tomar esta luta em nossas mãos.

Em nosso país já se contabilizam mais de 700 infectados e 17 mortos. E os números só aumentam diariamente. Com uma quarentena obrigatória e com as forças de segurança vigiando as ruas, a pior parte é carregada pelos trabalhadores e desempregados. Para aqueles que antes do vírus não tinham um salário ou aposentadoria, não conseguiam um emprego e com os “bicos” não se chegava ao fim do mês, agora a situação se tornou um calvário.

O Presidente Alberto Fernandez assegura que o Estado está “presente” e anunciou medidas diferentes para monotributistas, beneficiários da AUH e trabalhadores informais que não recebem ajuda social.

Mas, estas medidas, são mais que insuficientes frente à escalada dos preços e a especulação das grandes redes de varejo que retém as mercadorias e produzem desabastecimento. Acaso alguém pode viver com 10.000 pesos?

A face mais crua dessa realidade está nos bairros mais humildes. Onde as salas de jantar e as áreas de piquenique não são suficientes. Onde a fome e a necessidade estão se tornando mais agudas. Eles são as vítimas silenciosas do coronavírus. Onde o Estado ainda não se fez presente.

Por outro lado, a situação deplorável dos hospitais públicos revela o esvaziamento e desinvestimento em saúde pública. Lá, os profissionais de saúde, que fazem malabarismos para cuidar dos pacientes, começam a denunciar a falta de materiais e a exigir condições de segurança e higiene para sua própria proteção. Já que, em muitos casos, não contam nem com luvas ou máscaras.

Atualmente, o governo federal destina 4,4% do orçamento nacional para a saúde. Isto representa $ 224.307 milhões. Enquanto apenas na cidade de Buenos Aires, em Fevereiro deste ano, foram destinados 277 milhões de dólares para pagar credores. E os bancos, em 2019, embolsaram ganhos de $ 314.000 milhões. Está claro que tanto no governo de Macri como no de Fernández a saúde não é uma prioridade. Apoiamos as reclamações dos trabalhadores da saúde e fazemos eco de suas demandas.

A “Unidade Nacional” está entre os trabalhadores. Alberto Fernández pede a unidade de todos os argentinos para fechar permanentemente a rachadura. O Presidente nos pede que se vire a página, não apenas com as Forças Armadas, mas também com Macri, Gustavo Nardelli (proprietário da Cicetin) e todos os empresários que a usaram durante o governo anterior, como as empresas de energia, os bancos privados que ganharam $ 3.000 milhões por dia graças as taxas de Leliq, as grandes empresas de cereais e latas de óleo que ganharam milhões em exportações agrícolas, graças à diminuição das retenções. E todos aqueles que fugiram com seus dólares para o exterior com a “bicicleta financeira” do macrismo.

Nós repudiamos esta Unidade Nacional com os que afundaram o país no desemprego e na miséria. Mas também com aqueles empresários que pretendem descarregar a sua crise sob as costas dos trabalhadores. Aproveitando-se da situação para suspender ou demitir seus empregados e rebaixar salários, como estão sugerindo desde a UIA e como já fizeram a companhia aérea LATAM e Techint.

Frente a trágica e desesperante situação que vivem os trabalhadores, os patrões mostram sua insensibilidade e ganância, obrigando-nos a seguir trabalhando ao invés de estar de quarentena “obrigatória”, sem sequer garantir as condições de prevenção e segurança para não contrairmos o vírus. Algo que se repete em distintos países do mundo. É por isso que no dia 25 de março os operários da Itália e trabalhadores da Colômbia protagonizaram manifestações contra seus respectivos governos.

Sob todos os tipos de pressão e manobras para declarar suas atividades “essenciais”, os empresários da indústria querem aumentar seus lucros à custa da saúde e da vida dos trabalhadores e de suas famílias. Tudo isso diante dos olhos das autoridades governamentais e da cumplicidade da direção sindical traidora da CGT e CTAs.

Plano operário de Emergência Nacional para combater o vírus a serviço do povo trabalhador!

Por tudo isto, desde a Corrente de Trabalhadores Revolucionários (CTR), propomos que sejam os trabalhadores que tomem a frente desta situação, organizando-se em cada fábrica, lugar de trabalho e estudo, e em cada bairro para mobilizar-se e exigir dos sindicatos, da CGT e CTAs, um Plano Operário e Popular de Emergência Social e Sanitária com base nos seguintes pontos:

  • Nacionalização do sistema de saúde sob controle dos trabalhadores. Todos os postos e clínicas privadas devem estar sob a centralização do Estado. Restituindo o acesso universal à saúde como um direito e não como uma mercadoria.
  • Nacionalização de toda a indústria farmacêutica para assegurar a produção, distribuição e comercialização dos medicamentos. Para garantir remédios baratos para a população e medicamentos gratuitos para os aposentados e pacientes de risco.
  • Triplicação do orçamento para a saúde pública, a ciência e a pesquisa científica. Aumento salarial e mudança no piso permanente para todos os trabalhadores da saúde.
  • Expropriação de empreendimentos imobiliários privados (edifícios e complexos de moradias) e propriedades da especulação para a construção de novos hospitais e de moradias populares.
  • Plano nacional de obras públicas para dar emprego aos milhares de desempregados e as cooperativas.
  • Nacionalização dos bancos e depósitos bancários para destinar esses recursos a um Plano produtivo para distribuição de alimentos, materiais e equipamentos hospitalares.
  • Altos impostos para as mineradoras, petroleiras, empresas de energia e agroexportadores.
  • A vida ou a dívida! Suspensão imediata do pagamento da dívida externa e aos credores. Investigação e auditoria pública da dívida.
  • Estatizar as grandes empresas alimentícias sob controle operário.
  • Que as empresas de cerais, farinha e a indústria láctea doem obrigatoriamente 20% de sua produção para as cantinas escolares e populares.
  • Criação de um Conselho Nacional de grãos e carnes para fornecer mercadorias baratas e de qualidade para a população. Priorizando o consumo interno.
  • Aumento emergencial de todos os salários, aposentadorias, pensões e assistências sociais.
  • Subsídios igual a da cesta básica para os monotributistas e trabalhadores informais.
  • Subsídios para as cooperativas e fábricas recuperadas para produzir insumos como álcool em gel, máscaras, macas e todo tipo de móveis para equipar os hospitais.
  • Reconversão da indústria nacional para produção de equipamentos hospitalares, respiradores e artefatos médicos e cirúrgicos.
  • Controle popular de preços por comissões de bairro e organizações sociais em cada bairro. Sob pena de expropriação e confisco dos bens de grandes supermercados que aumentem os preços.
  • Que as redes de supermercado doem sacos de mercadoria aos bairros mais pobres sob controle dos movimentos sociais e comitês de bairros.
  • Reverter as tarifas de luz e gás ao preço de 2015. Cancelamento de todas as dívidas dos usuários.
  • Comissões de bairros para denunciar o abuso de autoridade das forças de segurança nos bairros e exigir que se retirem imediatamente e controlar os próprios moradores o cumprimento da quarentena. Exigindo kits de higiene e prevenção ao município. Distribuição de sacos de alimento entregues pelo exército através das escolas e cozinhas comunitárias.
  • Comissões de base nas fábricas e empresas para controlar o cumprimento das medidas de segurança, higiene e proteção ao vírus. Parando a produção se não forem respeitadas. Sendo os trabalhadores que determinem se sua atividade é essencial ou não.
  • Proibição por lei de demissões e da redução de salários. Estatizando sob controle operário as empresas que não cumpram estas normas.

Sim, como disse o presidente, “estamos em guerra contra um inimigo invisível”. Estas medidas devem ser executadas de imediato para proteger nossas vidas e a de nossas famílias. Não confiamos que ele o faça, pois até agora ele fez vista grossa para todos os abusos das forças de segurança nas ruas e para os patrões que se aproveitam para demitir e reduzir salários dos seus trabalhadores. Mas, confiamos na organização e mobilização da classe trabalhadora para sair e lutar! Porque essa “guerra” é contra aqueles que saquearam o país, destruindo a saúde pública, a educação e o trabalho. São eles que devem pagar os custos da crise. Não os trabalhadores.

CTR (28/3/2020)

Um comentário em “O vírus da crise capitalista

  1. No me gusta quedarme en casa todo el tiempo, pero las calles son insoportables si tanta gente me está aburriendo.

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