Os presidentes do PT, PCdoB, PSOL, PCB e Rede publicaram no dia 25/3 uma nota em repúdio ao pronunciamento de Bolsonaro na noite do dia 24, em que este incitou a população a sair da quarentena.
Obviamente, as posições genocidas de Bolsonaro devem ser repudiadas por todas e todos trabalhadores e pelas organizações políticas e movimentos da classe trabalhadora. Mas, a política dos partidos de esquerda exposta nesta nota é completamente equivocada.
Para se contrapor a Bolsonaro, defendem e embelezam a política das empresas, governadores e prefeitos, afirmando: “No momento em que todas as instituições públicas, empresas, gestores estaduais e municipais, entidades de classe, organizações da sociedade civil, lideranças religiosas e especialistas em saúde redobram esforços para assegurar medidas de combate à pandemia de coronavírus no Brasil, o presidente da República vem a público desestimular todos esses esforços.” E conclamam: “É momento de união, de nos somarmos aos esforços que realizam os governadores, de apoiarmos os profissionais da saúde e o SUS, de aprovarmos medidas no Congresso que defendam a vida e o emprego.”
Quem está “redobrando esforços” para defender a população trabalhadora contra a pandemia são de fato as trabalhadoras e trabalhadores da saúde e do SUS, e merecem todo o nosso apoio. Mas, estes/as profissionais estão sendo obrigados pelos donos das empresas privadas de saúde e pelos governadores e prefeitos (com a cumplicidade do Congresso Nacional e Assembleias Legislativas) a trabalhar sem as medidas de proteção (EPIs) e materiais necessários, submetidos/as a jornadas de trabalho estafantes do ponto de vista físico e psicológico e muitos/as estão sendo vitimados/as pela Covid-19. Eles/as têm feito manifestos e protestos para denunciar esta situação e exigir o fornecimento de equipamentos e materiais e a contratação de mais funcionários/as. Ao invés de se somar aos trabalhadores nesta denúncia e nesta luta, os presidentes dos partidos de esquerda ajudam seus amigos governadores, prefeitos e patrões da saúde a esconder esta realidade, elevando-os a defensores do povo. Uma política miserável e mentirosa!
A nota dos presidentes dos partidos levanta timidamente um “Basta de Bolsonaro!”, quando é preciso gritar bem alto o “Fora Bolsonaro e Mourão!”, e avançar na mobilização e organização do povo pobre e trabalhador para colocar esta palavra de ordem em prática o quanto antes. Mas, os “chefes da esquerda” nem pensam em chamar os trabalhadores à luta para derrubar Bolsonaro porque não querem assustar seus amigos da direita no Congresso Nacional, como Rodrigo Maia (DEM), com os quais querem fazer uma “ampla união em defesa da vida dos brasileiros e da democracia”. Chamam o povo a confiar no mesmo Congresso e nos mesmos partidos e políticos que aprovaram as “reformas” Trabalhista e da Previdência para destruir nossos direitos, os mesmos que aprovaram a PEC da Morte, que aumentou o sucateamento do SUS, entre inúmeros ataques à classe trabalhadora e o povo pobre. Congresso que agora tenta encobrir seu caráter corrupto e patronal com medidas “meia sola”, como a que promete pagar 600 reais para uma parcela dos trabalhadores informais não se sabe quando, medida festejada pelos chefes da esquerda como “grande vitória” da unidade entre os partidos da esquerda e da direita no Congresso.
Enquanto isso, milhões de trabalhadoras e trabalhadores vêm a fome bater à sua porta; milhões estão sendo obrigados a seguir trabalhando sem medidas de proteção contra a pandemia; e os patrões se aproveitam da crise para demitir, reduzir salários, cortar direitos e aumentar seus lucros especulando com produtos essenciais como respiradores de oxigênio, máscaras, luvas, álcool, etc. Esta é a verdadeira política dos capitalistas e seus governos! Esta é a verdadeira situação das trabalhadoras e trabalhadores e do povo pobre que está sendo escondida de forma criminosa por estes partidos e dirigentes que falam em nome da classe trabalhadora!
No dia 29, esta política foi reforçada e ampliada para além do PT, PCdoB, PSOL e PCB, numa nota assinada também pela Unidade Popular, Consulta Popular, PRC, PSB, PDT e PV, e também por outra nota assinada pelos ex-candidatos a presidente destes partidos, entre eles, Ciro Gomes (PDT), Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e Edmilson Costa (PCB), onde pedem a Bolsonaro que renuncie e elogiam o trabalho “louvável” feito pelos governadores e prefeitos. Lula também tem se manifestado neste mesmo sentido. As centrais sindicais majoritárias também já haviam publicado uma nota no dia 12/3 em que propõem “um amplo diálogo com a sociedade e com o Congresso Nacional para definir as medidas necessárias para conter a crise do coronavírus e a crise econômica”, mas não propõem nenhum plano para organizar a luta da classe trabalhadora.
Esta política traidora de conciliação com os patrões e seus governos e representantes políticos deve ser repudiada pela base militante destes partidos que falam em nome da classe trabalhadora (PT, PCdoB, PSOL, PCB, Unidade Popular, Consulta Popular) e por toda a vanguarda ativista dos sindicatos, coletivos e movimentos de luta! É preciso que as trabalhadoras e trabalhadores conscientes exijam destes partidos que rompam seus pactos e alianças com os patrões e seus partidos e políticos corruptos. E que lutem pelas verdadeiras medidas urgentes para proteger a nossa classe da crise sanitária e econômica. Conclamando e organizando a luta por Fora Bolsonaro e Mourão, por um Governo da classe trabalhadora, sem patrões!
Nota do GOI (31/3/2020)