A imaginação burocrática parece não ter limites quando se trata de inventar manobras para manter o controle sobre os sindicatos. Greve da “vaca louca”, greve “pipoca”, greve “branca” são algumas das suas invenções pitorescas para “simular” mobilizações da classe trabalhadora. Contudo, a burocracia “bebelista”, direção do “maior sindicato da América Latina”, resolveu dar sua contribuição original a este dicionário: a greve “fake”.
A assembleia de 26/11, da qual participaram não mais do que 1500 pessoas, decretou a “greve dos professores”… só que não. A greve “fake” será realizada somente às terças feiras, dias de votação na Assembleia Legislativa de São Paulo, ou noutros dias em que ocorram votações do projeto de “reforma” da Previdência do governador Dória (PSDB). Ao invés de reconhecer que a categoria não tem condições de entrar em greve neste momento e preparar de fato uma forte paralisação e manifestação no dia 3/12, os burocratas resolveram dar uma de “espertos”, anunciando uma greve que não existe. Pouco lhes importa se esta orientação leva confusão para as professoras e professores nas escolas, pois, afinal, não tem como objetivo alavancar a mobilização da categoria, mas tão somente causar sensação na imprensa e “assustar” o governo e os deputados da Alesp.
Este episódio evidencia a completa falência da direção da Apeoesp, que tem a frente a CUT/PT e CTB/PCdoB, e sua incapacidade de organizar uma luta séria e efetiva dos trabalhadores da educação. Todavia, a degeneração burocrática de Bebel e Cia. não é novidade para a maioria da categoria, que já conhece “de cor” a história das traições de inúmeras lutas e greves. A novidade está no triste papel cumprido pelas oposições neste episódio.
Nenhuma das inúmeras correntes que a compõem denunciou a farsa da “greve fake”. E nem podiam, porque a nova tática tinha sido “arquitetada” no Conselho Estadual de Representantes (CER) entre Bebel e a cúpula das oposições. De sua parte, as correntes ultraesquerdistas não perderam a oportunidade de se “agarrar” à proposta de “greve dos professores” para a sua defesa doutrinária permanente da greve, sem levar em conta as condições objetivas e subjetivas para deflagrá-la. Desta forma, todas as alas das oposições oficiais cumpriram o papel de roda esquerda da política imobilista e enganadora de Bebel e Cia., demonstrando seu seguidismo à direção da Apeoesp e sua incapacidade de propor uma política correta para organizar a luta da categoria.
A segunda farsa montada pela direção da Apeoesp foi a “unidade do funcionalismo”. Anunciou-se com pompa e circunstância que esta tarefa, decisiva para o enfrentamento às “reformas” da Previdência e dos Planos de Carreira de Dória, está sendo tomada pela “presidenta” Bebel junto aos demais presidentes e presidentas dos sindicatos das categorias do funcionalismo, que fizeram discursos pela unidade num ato realizado ao final da assembleia. Ora, podemos então respirar tranquilos: esta cúpula burocrática de “presidentes” vai assegurar a greve geral do funcionalismo de São Paulo!! As oposições não fizeram nenhuma crítica a esta política de “unidade” burocrática, nem apresentaram outra política para a construção de uma efetiva luta unificada do funcionalismo desde a base.
O GOI distribuiu um boletim na assembleia no qual defendemos contra a decretação de greve isolada pela Apeoesp e pela construção de um Plano de Luta em direção à Greve Geral do Funcionalismo Público de São Paulo. E que para isso seja formado um Comando de Mobilização aberto à participação de ativistas de base, que fique responsável de organizar um Encontro Unificado do funcionalismo com representantes eleitos nas bases de cada categoria. Porém, não tivemos o direito à palavra na assembleia, assim como nenhum professor e professora da base presentes. A lista de “oradores”, como de praxe, já veio fechada desde o CER por acordo entre Bebel e as cúpulas das oposições. Este é o método do “condomínio das correntes” que asfixia a democracia nas assembleias da Apeoesp. A fala é monopolizada (melhor seria dizer oligopolizada) pelas correntes sindicais da direção e das oposições e não há espaço para trabalhadores da base.
Esta prática burocrática, enraizada por anos e anos, tem de ser quebrada pela ação das bases, é preciso lutar por uma verdadeira democracia nas assembleias: prioridade para a fala de professores e professoras da base. Chega da lista interminável de discursos do “condomínio das correntes”. Que as falas das correntes sejam em função das propostas diferentes que existam para organizar a luta da categoria. Que Bebel e os diretores tenham tempo igual de fala aos oradores da base e que sejam proibidos de tomar o microfone a qualquer momento para rebater as propostas diferentes.
Chega de burocracia! É preciso organizar pela base nossa luta e nossas assembleias!
Nota do GOI – 1/12/2019
Perfeito. Parabéns por colocar em palavras tantas coisas engasgadas.
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