Bolívia: Organizar a autodefesa operária, popular, camponesa e indígena contra o golpe da burguesia e do imperialismo!

Os partidos da burguesia boliviana, apoiados pela cúpula das Forças Armadas e Policiais, desataram uma ofensiva golpista que levou à renúncia do presidente Evo Morales, do MAS (Movimento ao Socialismo). Para isso, contam com o apoio do imperialismo, principalmente dos Estados Unidos de Trump, e dos governos reacionários da América Latina e do mundo, como o de Bolsonaro (Brasil), Macri (Argentina), Piñera (Chile), Duque (Colômbia) e outros. A exemplo do que vêm fazendo estes governos capachos dos Estados Unidos, o objetivo dos golpistas bolivianos é impor um ataque sem tréguas às condições de trabalho e de vida do povo pobre e trabalhador, avançando na recolonização imperialista da Bolívia. Além disso, querem fazer retroceder as conquistas dos povos originários, arrancadas por séculos de luta anticolonial e pelas insurreições como a “Guerra da Água” dos anos 2000, restabelecendo o pleno domínio das ideologias e da “cultura” racista e clerical da burguesia e da classe média branca (neste momento simbolizadas pela queima da bandeira indígena da “whipala”, elevada a símbolo nacional ao lado da tradicional bandeira do estado burguês boliviano).

Após 14 anos do falso “socialismo bolivariano” e da enganosa “colaboração pacífica entre as classes e povos”, o agravamento da crise econômica mundial expôs a verdadeira face da situação de pobreza, desemprego, falência dos serviços públicos e submissão aos interesses capitalistas e imperialistas (a exemplo da entrega das reservas de lítio do país para a exploração do imperialismo alemão) praticada pelo governo de colaboração de classes de Evo Morales. O descontentamento e a revolta de amplos setores da classe trabalhadora e do povo pobre, ao não ser dirigido pelas organizações do movimento operário, popular, indígena e camponês, comprometidas com a sustentação do governo de Evo Morales, acabou sendo canalizado pela oposição burguesa, seja através da demagogia “democrática” de Carlos Mesa, seja pela pregação racista, clerical e fascista do empresário Fernando Camacho (o “bolsonaro boliviano”). A burguesia reacionária, além de consolidar sua influência política nas regiões e setores mais ricos da Bolívia, como a província de Santa Cruz e os bairros da classe média de La Paz, passou a manipular com falsas promessas a importantes setores da classe trabalhadora e do povo pobre, usando-os como massa de manobra para sua volta ao poder.

Ao optar pela renúncia e não pelo chamado à resistência popular, Evo Morales e as lideranças do MAS entregam covardemente o poder à direita burguesa e à cúpula militar, demonstrando que mesmo neste momento de crise seguem com a mesma política de conciliação com a burguesia e o imperialismo que aplicaram durante seus anos de governo. Desde seu exílio no México, Evo prega a “pacificação” do país, e se dispõe a colaborar para a “transição” do poder aos golpistas, cedendo às manobras parlamentares e eleitorais “monitoradas” pela OEA (Organização dos Estados Americanos), que não passa de uma agência do imperialismo ianque para a intervenção nos países da América Latina e do Caribe.

A burocracia da COB (Central Operária Boliviana), na figura de seu presidente Juan Carlos Huarachi, que durante os últimos 14 anos sacrificou a independência política da classe operária boliviana para dar apoio aos governos de colaboração de classes de Evo Morales, capitulou vergonhosamente diante da investida golpista da direita ao exigir a renúncia do governo, unindo-se na prática aos golpistas, ao invés de chamar os trabalhadores e trabalhadoras a resistir. O mesmo ocorreu com outros dirigentes do movimento sindical, popular, camponês e indígena. O dirigente da COB agora exige dos “líderes políticos e cívicos” o restabelecimento da “ordem do país, a paz social e o respeito à democracia”, sem deixar nítido de que lado da trincheira pretende colocar a histórica organização da classe operária boliviana.  

Contudo, apesar da traição de seus dirigentes, os trabalhadores e trabalhadoras, moradores de bairros populares como El Alto, camponeses e indígenas manifestam sua disposição de resistir aos militares golpistas e aos bandos armados da direita, organizando sua autodefesa armada e lutando para evitar a volta ao poder das velhas oligarquias da burguesia boliviana. É desta mobilização independente e revolucionária das massas exploradas e oprimidas que depende o futuro da Bolívia. É preciso construir e difundir Comitês de Autodefesa contra o golpe, que assumam o controle dos bairros populares, das fábricas, comércio, transportes e serviços públicos para garantir o acesso e a distribuição dos produtos e serviços básicos e a segurança da população.

Ao mesmo tempo, o povo explorado e oprimido que neste momento se mobiliza nos bairros populares, nas ruas, estradas e nos campos para barrar a ofensiva burguesa-imperialista deve exigir de Evo Morales, do MAS, da direção da COB e demais lideranças do movimento operário, popular, camponês e indígena que rompam sua colaboração com a burguesia e o imperialismo e se somem à resistência ativa e revolucionária contra o golpe. Que se organize um grande encontro nacional de todas as organizações do povo explorado e oprimido, tendo à frente a histórica COB, com delegados e delegadas eleitos pelos ativistas que estão à frente das lutas, para unificar a resistência e derrotar o golpe, avançando para uma saída operária e socialista para a Bolívia. É preciso também atuar sobre a base das Forças Armadas, os soldados, cabos e sargentos, chamando-os a não reprimir as manifestações do povo, a se organizarem política e sindicalmente em defesa de seus direitos, a elegerem democraticamente seus comandantes e entregarem armas aos comitês de autodefesa do povo pobre.

Ao não aceitar o resultado das últimas eleições a direita golpista demonstrou que só vai acatar um resultado eleitoral que lhe assegure a volta ao poder. A proclamação como “presidente” de uma senadora da oposição burguesa pelo “parlamento” esvaziado segue o exemplo da autoproclamação de Guaidó na Venezuela, sob os aplausos de Trump e seus presidentes capachos da América Latina. Com esta farsa, os partidos da burguesia pretendem fazer a “transição democrática”, sob as botas dos militares golpistas e dos bandos armados de Camacho. Portanto, não será através de manobras parlamentares e eleitorais a serviço da consolidação do golpe que se decidirá o futuro da Bolívia. A luta deve ser decidida nas lutas e nas ruas.

Os jovens ativistas do histórico bairro de El Alto, que marcharam sob o lema “Agora sim, guerra civil!”, demonstram que avança a consciência de que há uma luta decisiva entre a revolução e a contrarrevolução na Bolívia, e que só através da luta nas ruas será possível derrotar a intentona golpista. Neste processo revolucionário é necessário e possível avançar na construção de um Governo operário, popular, camponês e indígena, sem patrões, que assuma o poder e governe com e para o povo explorado e oprimido boliviano.

O GOI se soma à luta pela derrota da ofensiva golpista burguesa-imperialista e fazemos um chamado às organizações do movimento operário e de massas e às entidades democráticas que promovam a solidariedade ativa ao povo boliviano.  

Declaração do GOI – Grupo Operário Internacionalista (14/11/2019)

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