Declaração do GOI (14/10/2019)
Nicarágua, Honduras, Porto Rico, Haiti… Na onda de levantes dos povos latinoamericanos e caribenhos contra governos patronais e fantoches do imperialismo agora é a vez do povo do Equador se levantar contra o governo de Lenin Moreno. Após assinar acordo com o FMI, Moreno baixou o decreto 883 acabando com o subsídio aos combustíveis, o que fez saltar 123% os preços da gasolina, diesel e derivados, e deu início a uma reforma trabalhista para cortar direitos da classe trabalhadora.
A revolta do povo pobre e trabalhador, que tem à frente milhares de indígenas que se deslocaram das áreas rurais para a capital, explodiu no dia 3 de outubro e desde então paralisa o país com manifestações diárias, duramente reprimidas pela polícia. Segundo a Defensoria Pública do Equador já são 7 manifestantes mortos, 1.340 feridos e 1152 presos.
A insurreição coloca na ordem do dia a derrubada do governo que, após se retirar para a cidade de Guayaquil, impôs o toque de recolher e a militarização em Quito, capital do país. A retirada do governo da capital mostra sua fraqueza e seu temor de que a repressão não será suficiente para deter as massas que gritam Fora Lênin Moreno! Prova disso são as confraternizações de soldados do Exército com o povo nas ruas, chegando inclusive a se enfrentar com a polícia para defender manifestantes. Ou seja, pode se abrir uma crise ainda mais profunda nas instituições do regime político.
Mas, a política das direções reconhecidas pelas massas insurretas não é de derrubar Moreno. Sem nenhuma explicação, a direção dos sindicatos de trabalhadores e cooperativas de transportes suspendeu a greve nacional que foi o estopim da rebelião. As lideranças da CONAIE – Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, a principal organização dos povos originários do país, declara que seu objetivo não é a derrubada do governo, mas apenas a revogação do decreto 883.
Com a intermediação da ONU e da Igreja Católica, na noite de 13 de outubro, o presidente Moreno se reuniu com Jaime Vargas, dirigente da CONAIE e principal liderança indígena, para anunciar a revogação do decreto 883 e a formação de uma comissão com membros do governo e da CONAIE para redigir um novo decreto sobre o subsídio aos combustíveis.
O recuo tático do governo foi imposto pela força da luta de mais de 12 dias de enfrentamentos nas ruas. Porém, governo acena com a redução do percentual de aumento dos combustíveis e com promessas vagas de recursos para as comunidades indígenas com o único objetivo de abrir negociações para desmobilizar as massas, para posteriormente voltar a atacar quando o movimento entrar em refluxo.
A política conciliadora das direções ameaça colocar a perder a energia revolucionária das massas, dando tempo a Lênin Moreno para recompor seu governo e seguir com a aplicação de seus planos. É preciso levar a luta até a derrubada do governo, único caminho que pode garantir as demandas da classe trabalhadora e dos povos originários. E conquistar a anulação do acordo com o FMI, base dos ataques feitos pelo governo.
É urgente a unificação dos diversos setores em luta, sindicatos, cooperativas, movimentos populares e o poderoso movimento indígena. Embora a luta esteja unificada na prática nas ruas durante os enfrentamentos com a polícia, não há uma direção unificada, nem um plano único do conjunto das organizações que se encontram à frente da luta. Isso facilita as manobras de Lenin Moreno para dividir o movimento e acabar com a rebelião.
E, se o governo cai, pelo que substituí-lo? O ex-presidente Rafael Correa, ex-padrinho político de Moreno e responsável pela sua ascensão ao poder, propõe a antecipação das eleições, ou seja, que os trabalhadores e indígenas que podem avançar para ter o controle do país troquem sua luta direta de hoje pela cédula eleitoral em eleições futuras e incertas, onde concorrerão os mesmos partidos e políticos que levaram o Equador à crise atual.
Está colocada a necessidade e a possibilidade de que os indígenas, trabalhadores e trabalhadoras, a juventude e o povo pobre em luta derrubem Moreno já e avancem na formação de organismos de coordenação das lutas e de controle sobre as forças produtivas do país, em direção a um Governo Operário, Popular e Indígena, sem patrões.
A luta do povo explorado e oprimido do Equador é um exemplo para a classe trabalhadora do Brasil e demais povos da América Latina e Caribe, e de todo o mundo, que necessitam derrotar governos reacionários e pró ianques como o de Bolsonaro, Macri e outros. Por isso, estes governos lacaios do imperialismo da região saíram rapidamente a apoiar o governo assassino de Moreno.
Fora Moreno e o FMI!
Ruptura do acordo com o FMI e anulação de todas as medidas impostas pelo governo!
Unidade das organizações em luta! Pela formação de organismos unificados pela base!
Liberdade para todos e todas os presos nas manifestações! Punição aos responsáveis pelas mortes e repressão ao povo!
Direito de autodefesa das organizações e ativistas! Chamado aos soldados para que se recusem a reprimir o povo em luta!
Por um Governo Operário, Popular e Indígena, sem patrões!
