A ordem de prisão do juiz Moro contra Lula volta a acirrar a crise da democracia burguesa no país e a polarizar as classes sociais. O país divide-se em dois campos rivais: os que querem Lula na cadeia e os que querem Lula presidente. De um lado está a burguesia e o imperialismo, o governo Temer/Meireles, o Congresso corrupto, a casta parasitária de juízes e procuradores, os generais e altos comandantes das Forças Armadas, a Rede Globo e os grandes meios de comunicação, a direita bolsonarista e fascista. Do outro lado estão milhões de trabalhadores, trabalhadoras e jovens proletários, e a grande maioria das organizações políticas, sindicais, populares, camponesas, estudantis, feministas, antiracistas e LGBTTs do país.
O que está em jogo não é o suposto “combate à corrupção”, campanha mentirosa da burguesia para encobrir os verdadeiros motivos da crise nacional. O que está em jogo é o poder, o governo do país: se o Brasil seguirá sendo governado pelos partidos que hoje estão no poder com Temer, PSDB, MDB, DEM, PTB, PPS e suas lideranças como Meireles, FHC, Alckmin, Maia, Dória, Aécio, Richa, Bolsonaro e a corja de políticos que os apoiam nos estados e municípios; ou se levará de volta ao poder a Frente Popular de Lula e do PT, apoiada por milhões de trabalhadores e trabalhadoras que acreditam que a eleição de Lula presidente é o caminho para derrotar a política antioperária de Temer e dos partidos que subiram ao poder com o impeachment de Dilma. O que está em disputa é se terá continuidade a ofensiva burguesa-imperialista de destruição dos direitos trabalhistas e previdenciários, de arrocho salarial, desemprego e subemprego precarizado, de sucateamento e privatização dos serviços e empresas públicas (saúde, educação, assistência, correios, saneamento, moradia, eletricidade, Petrobrás, etc), de ataques aos direitos humanos e democráticos e militarização do país, de assassinatos de lideranças de esquerda como Marielle Franco, políticas levadas ao máximo pelo governo corrupto e pró-imperialista de Temer; ou a volta de Lula e do PT ao poder, que poderia aprofundar a crise do regime político, abrindo caminho para que classe trabalhadora siga se mobilizando para barrar a ofensiva contra nossos direitos, e possa avançar em direção à formação de um Governo dos Trabalhadores, sem patrões, de ruptura com a burguesia e com a dominação imperialista, verdadeiras causas da crise nacional.
O campo político da burguesia e do imperialismo é poderoso, mas está dividido: seu setor mais decidido, que tem como lideranças o juiz Moro e o capitão terrorista Bolsonaro, aplica e defende medidas autoritárias para evitar por todos os meios a volta ao poder de um governo de esquerda, de base operária e popular; o outro setor, vacilante, liderado por figuras como FHC, Alckmin, Maia e o próprio Temer, tenta dar uma saída honrosa para Lula e o PT que evite o aprofundamento da crise política do regime e da luta de classes no país. Este “racha” na burguesia é o que explica a divisão do patético Supremo Tribunal Federal (6 a 5) na votação do habeas corpus de Lula.
Já o campo político da classe trabalhadora ainda não existe. E isso se explica por duas razões. A primeira e mais importante é que Lula e o PT se recusam a fazer uma frente dos trabalhadores sem a participação e o financiamento de partidos e políticos burgueses. Lula, mesmo sendo perseguido e condenado pela burguesia e seu estado, ainda segue costurando alianças políticas com partidos políticos burgueses de segunda linha, como o PDT e o PSB, com Ciro Gomes, Roberto Requião, Renan Calheiros e Kátia Abreu; ainda segue esperando a complacência da burguesia e do imperialismo pelos bons serviços prestados em seus dois governos e nos governo de Dilma; ainda segue depositando sua sorte nas manobras jurídicas no STF. Lula e o PT, e seus aliados do PC do B, MST, CUT e demais organizações que compõem a Frente Brasil Popular, se recusam a romper com a política de conciliação de classes com a burguesia e o imperialismo, mantendo a classe trabalhadora e suas organizações políticas, sindicais e populares divididas e reféns do avanço das forças reacionárias.
A segunda razão é a política equivocada da esquerda socialista centrista e revolucionária. A maioria dos partidos e correntes políticas da esquerda socialista, que se agrupam no PSOL e em torno à candidatura do líder do MTST, Guilherme Boulos, o MAIS, NOS, MES, LSR, e lideranças como Ivan Valente e Marcelo Freixo, estão corretamente tomando a defesa de Lula contra as manobras autoritárias do Judiciário burguês, mas não exigem de Lula e do PT a ruptura com a burguesia e a formação de um campo político classista, uma frente dos trabalhadores, sem patrões. Deixam assim o caminho livre para Lula e o PT seguirem aplicando sua política nefasta de conciliação de classes, buscando aproveitar de forma oportunista a crise do PT para eleger candidatos a deputado e senador nas eleições de outubro.
O outro bloco da esquerda socialista, encabeçado pelo PSTU e que reúne a LS, CST, Transição Socialista, e outras correntes, que dirige a CSP-Conlutas, defende aberta ou envergonhadamente a prisão de Lula, em nome do “combate à corrupção”, fazendo coro com a burguesia. Este bloco ignora completamente o fato de que Lula ainda tem o apoio da maioria dos setores mais conscientes da classe trabalhadora e da vanguarda dos ativistas das lutas e que o PT ainda dirige e influencia a maioria dos sindicatos e organizações do movimento operário e popular. Ignoram que para construir (de fato e não em palavras) o campo classista da classe trabalhadora é preciso ter uma política para romper o campo de colaboração de classes da frente popular, para o qual Lula e o PT ainda arrastam a maioria da nossa classe.
Quer dizer, seja pela via do oportunismo eleitoral ou do sectarismo ultraesquerdista, a esquerda socialista também tem jogado contra a formação de um campo político unificado da classe trabalhadora.
O GOI defende a construção de uma Frente dos Trabalhadores, sem patrões, com Lula presidente e Boulos vice, unificando assim os dois principais partidos (PT e PSOL), e as duas principais lideranças dos movimentos e organizações de luta da classe trabalhadora. Esta frente classista reuniria em torno de si a ampla maioria dos trabalhadores e trabalhadoras e dos ativistas das lutas e daria um grande impulso à luta da classe trabalhadora para enfrentar e derrotar a ofensiva econômica e política da burguesia e do imperialismo contra nossos direitos civis, políticos e sociais, tanto nas eleições de outubro quanto nas lutas políticas, sindicais e populares. Uma frente classista para enfrentar e derrotar a ofensiva dos grupos da ultradireita e do fascismo que se articulam em defesa das manobras autoritárias do juiz Moro e da campanha presidencial de Bolsonaro.
Este é também o caminho para impor a liberdade de Lula e a garantia de seus direitos políticos. O fato de que Lula se entrincheirou no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e chamou as organizações dos movimentos dos trabalhadores para se defender contra a prisão arbitrária decretada por Moro é a melhor prova de que só a unidade classista dos trabalhadores e trabalhadoras pode dar um basta à escalada do autoritarismo no país. A formação desta frente classista é um grande temor da burguesia.
Esta frente classista é a que está reunida hoje em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para impedir a prisão de Lula. Esta frente classista é a que impulsionou as lutas do ano passado contra as reformas de Temer e lutou pelo Fora Temer. Esta frente que ocorre nas lutas pode e deve se transformar numa frente política classista. Mas, para isso, é fundamental uma política correta das organizações da esquerda socialista que exija de Lula que rompa com a burguesia e unifique a classe trabalhadora numa Frente dos Trabalhadores, sem patrões.
Queremos dialogar particularmente com os camaradas do MAIS, que, assim como nós, do GOI, romperam recentemente com o PSTU devido à política ultraesquerdista e sectária que vem sendo aplicada por aquele partido desde o impeachment de Dilma. A realidade da luta de classes nunca deu tanta razão às elaborações de Trotsky e de Moreno sobre a tática do governo operário e camponês, que se afirma, nesta conjuntura, como a única tática revolucionária que pode apontar para a necessária unidade das organizações do movimento operário e de massas. O MAIS é uma organização que tem peso na esquerda socialista e pode cumprir um papel decisivo, na medida em que adote uma política correta.
É inadmissível que nesta conjuntura da luta de classes a principal central sindical e popular independente dos patrões e governos, a CSP-Conlutas, por política de sua direção majoritária, se alinhe na prática com o campo da direita burguesa reacionária que quer colocar Lula na cadeia para “limpar o terreno” para a vitória da burguesia nas eleições e a continuidade de sua ofensiva sobre nossos direitos. Propomos que a direção da central convoque imediatamente plenárias estaduais abertas a todos os militantes da central para que se possa discutir e deliberar democraticamente sobre a política da CSP-Conlutas diante do agravamento da crise do país. Fazemos um chamado ao Bloco de Oposição a lutar conosco por esta política.
Declaração do GOI – Grupo Operário Internacionalista – 6/4/2018