Projeto Escola Sem Partido avança no Paraná. É preciso organizar a luta para derrotá-lo!

Por Chan Kin Con

Estamos a todo o momento enfrentando ataques aos nossos direitos mais básicos. Além de estarmos perdendo nossos direitos enquanto trabalhadores (as) da educação, como foi o caso da violência aplicada a nós aqui no Paraná, no dia 29 de abril de 2015, quando centenas ficaram feridos para tentar impedir o uso pelo governo dos recursos guardados para a nossa aposentadoria.

Vimos novamente isso acontecer agora com os trabalhadores (as) da educação e os servidores municipais de São Paulo, que com uma poderosa greve de 20 dias obrigaram o prefeito João Dória (PSDB) a recuar temporariamente na votação de seu projeto privatizante do Sampaprev, que aumenta a alíquota dos trabalhadores à previdência de 11 para 19%. Dória, a exemplo de seu correligionário tucano Beto Richa, também usou da tropa de choque da guarda municipal e da PM para agredir centenas de servidores. Assim aconteceu também no ano passado, em Curitiba, quando o prefeito Rafael Greca (PMN) usou de violência conjunta da Guarda Municipal e PM para agredir servidores (as) e educadores (as), e também em outros estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Goiás. Em Taboão da Serra-SP, por exemplo, foram mais de dois meses de greve, não pagamento de salários e assédio moral às trabalhadoras da educação.

A militarização das escolas é parte conjunta deste ataque à escola pública. Sem recursos, sem direitos, sem condições de trabalho e educação, estudantes, funcionários (as) e professoras (es) ficarão confinados e depositados em escolas sob vigilância militar e policial. Escola ou campo de concentração?

Aqui no Paraná, a perseguição do governo Richa abriu mais de 10 mil sindicâncias e centenas de processos administrativos contra professores e professoras que se solidarizaram com os estudantes que ocuparam as escolas, em 2016, contra a destruição do ensino médio. A luta continua agora para enfrentar a lei 13415, de 2017, que altera as Diretrizes e Bases Curriculares Nacionais, retirando a obrigatoriedade da maioria das matérias de conhecimento escolar (como Sociologia, Filosofia, História, Biologia, etc), deixando apenas Português e Matemática como disciplinas obrigatórias.

A exploração do nosso trabalho é crescente. Os  (As) funcionários (as) da Rede Pública Estadual do Paraná não têm sequer o piso salarial regional que é de 1441 reais e nem o valor de transporte suficiente para o deslocamento ao trabalho. As (Os) professoras (es) contratadas (os) através do PSS – Processo Seletivo Simplificado perderam quase 50% dos seus salários e as (os) efetivas (os) quase 30% dos seus salários com o não pagamento da reposição da inflação dos últimos dois anos. A perda de 2 horas-atividade, além de piorar as condições de trabalho, gerou mais de 15 mil professoras (es) contratadas (os) desempregados.

O que o projeto “Escola Sem Partido” quer é impedir que a comunidade escolar saiba desta realidade e dos problemas da escola pública. Quer proibir que se discutam em sala de aula os problemas sociais da comunidade escolar. Quer impedir que se discuta o racismo, a lgbtti-fobia, a violência contra a mulher, que são associados ao processo de exploração e destruição dos serviços públicos. Quer criminalizar a liberdade de protestar contra este estado de coisas que vivemos a partir dos ataques de governos como o de Temer, Dória e Beto Richa. Quer nos oprimir e calar, para que os explorados, trabalhadores (as), estudantes, pais e mães não tenhamos voz e nem protestemos nas escolas.

O projeto Escola Sem Partido acaba de ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa do Paraná e agora deve seguir ao plenário para aprovação final. Tanto a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, como o Conselho Estadual de Educação do Paraná têm pareceres contrários a esta lei autoritária que tenta proibir e criminalizar professoras (es), ferindo o direito de autonomia didático pedagógica para estudar e discutir com os alunos e alunas os problemas sociais e econômicos, a diversidade cultural e religiosa, a luta contra o preconceito e a discriminação de todo o tipo, que se amplia com a crise econômica, o desemprego e a reforma trabalhista que retirou direitos.

Esta semana recebi na escola onde trabalho um pai defensor do “Projeto Escola Sem Partido” que queria assistir a minha aula na intenção de questionar os professores que, segundo ele, “enrolam” na sala de aula falando de política e de sindicato e falando mal dos governos. Queria assistir uma aula em uma das minhas turmas para questionar o trabalho que fazemos. Sua preocupação não era com os problemas da falta de condições de trabalho, da violência, da opressão e exploração que vivemos na escola pública.

Precisamos urgentemente de um movimento unificado de todas as comunidades escolares em defesa da escola pública e democrática para a classe trabalhadora onde os estudantes, pais e mães saibam que a solução para a crise da educação pública não passa por criar uma série de proibições e criminalizar as (os) professoras (es) que mostram a realidade que vivemos na sociedade capitalista e na escola a partir da sala de aula.

O avanço do projeto Escola Sem Partido na Assembleia Legislativa do Paraná exige da diretoria da APP-Sindicato que organize imediatamente uma campanha de mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras da educação para discutir com os (as)  estudantes  e com pais e mães e toda a comunidade escolar e ganhar seu apoio para a derrubada deste projeto autoritário e por uma escola democrática e crítica.

Chan Kin Com é professor de Sociologia da Rede Pública Estadual do Paraná, no Colégio Estadual Hasdrubal Bellegard, em Curitiba.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s