Mês da Visibilidade Trans: educar a classe trabalhadora no combate às opressões

Por C. Pedroso

Desde 2004, no Brasil, através de uma iniciativa do movimento de Trans e Travestis e do Ministério da Saúde, Janeiro foi escolhido como o mês da visibilidade Trans e Travesti e 29 de Janeiro o Dia Nacional pela Visibilidade Trans e Travesti. Devido a falta de compreensão e informação da maioria da população do que é ser Trans ou Travesti, a visibilidade tem um papel fundamental no combate ao estigma e ao preconceito contra estas pessoas, que buscam apenas, através de sua luta e resistência, a inclusão, o respeito e a dignidade, como qualquer pessoa inserida numa sociedade. Trans e Travestis lutam diariamente inclusive no interior do movimento de combate às opressões (composto por gays, lésbicas, bissexuais, negros e negras, mulheres…), devido ao preconceito contra suas pautas.  Os resultados das campanhas, atividades e propaganda realizados pelas pessoas Trans e Travestis, infelizmente, parecem sempre ser insuficientes para mudar a dura realidade de viver no país mais violento para esta parcela da classe trabalhadora [1].

A atual crise econômica capitalista, tem tornado a questão das opressões de extrema importância para qualquer organização de trabalhadores que tenha como fim acabar com a exploração e com a deterioração do nível de vida de nossa classe. Várias organizações (do movimento dos sem terra/teto, ao dos quilombos, passando pelo movimento operário e as iniciativas de coletivos de juventude) estão debatendo a questão da opressão. Isto é o resultado positivo da resistência das minorias, que fez a consciência da classe se elevar ao colocar o combate a todo tipo de opressão (racismo, machismo e a LGBTTI+fobia) como necessidade e tarefa histórica dos trabalhadores, afinal, a opressão é utilizada pela burguesia para enfraquecer o conjunto de nossa classe. E pelo fato de vivermos num sistema baseado nas desigualdades, as pessoas Trans e Travestis são as que mais sofrem os efeitos do capitalismo selvagem: enfrentam o desemprego, a falta de acesso à educação, as péssimas condições de trabalho (quando conseguem algum), os baixos salários e, principalmente, a exploração de seus corpos na prostituição. Mesmo com a luta e resistência da população Trans e Travesti, que arrancou com sangue e suor algumas vitórias importantes, tal como o direito ao nome social (que lhes dá identidade perante a sociedade civil), sob o capitalismo não podemos nunca dizer que as pessoas Trans e as Travestis estarão em uma situação favorável.

A luta revolucionária pela visibilidade Trans tem um papel singular na atual conjuntura que retira direitos essenciais dos trabalhadores como a Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, a PEC que congela os gastos com Saúde e Educação, ou com projetos como a “Cura Gay” e Escola “Sem Partido”, que mostram o avanço de setores fundamentalistas e reacionários (Silas Malafaia e Bolsonaro, por exemplo). Por serem o setor mais explorado dos trabalhadores e trabalhadoras, a luta das Trans e Travestis abala a estrutura deste sistema que nos manipula, nos explora, nos oprime e ainda nos coloca uns contra os outros. Mas com a unidade de toda a classe, sob a bandeira revolucionária do combate às opressões, é possível colocar na ordem do dia a luta pela derrocada deste sistema podre. Por isso educar o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras sobre estas questões é hoje uma das principais tarefas da esquerda socialista.

Infelizmente, embora esta seja uma tarefa primordial dos trabalhadores e trabalhadoras, as ações adotadas hoje para a superação da opressão no interior de nossa classe ainda são insuficientes, principalmente quando falando sobre Transfobia. Isto se deve, principalmente, ao fato de os partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais ainda serem muito débeis e quase sempre limitarem a discussão das opressões aos próprios oprimidos [2]. Há também outro fator importante, que é a disputa pela consciência de nossa classe pela burguesia, que reduz a opressão a uma questão de “respeito e tolerância” para ocultar o real problema enfrentado pela grande maioria da população nas escolas públicas, nos locais de trabalho, e na sociedade capitalista: a exploração dos mais ricos sobre os mais pobres. Citando Rosa Luxemburgo, “há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a ser construído”. Cabe então ao conjunto da classe trabalhadora iniciar uma revolução no interior de suas organizações, se rebelando contra todo tipo de opressão, levando homens e mulheres Trans e as Travestis a superarem o papel à margem da sociedade que o capitalismo lhes tenta impor. Só assim será possível um combate consequente, e portanto, classista, à Transfobia, e que abra caminho para a libertação de todos os trabalhadores.


[1] Em 2017, a cada 48h uma Travesti ou pessoa Trans foi morta no Brasil. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, 179 mortes por Transfobia foram contabilizadas no país, colocando o Brasil no ranking de países com mais mortes de Transexuais e Travestis.

[2] Ler nossa avaliação política sobre o último Congresso da CSP Conlutas. (colocar link)

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