As centrais sindicais CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central, CSB, CGTB, Intersindical e CSP-Conlutas, em reunião de cúpula realizada no dia 24 de novembro, decretaram uma “greve nacional” para o dia 5 de dezembro, data prevista para a votação da reforma da Previdência no Congresso nacional.
Neste momento, o governo busca recompor sua base no Congresso para desferir um novo golpe contra nossos direitos, após já ter aprovado a reforma do ensino médio, a reforma trabalhista, além dos cortes nos investimentos sociais. Enquanto ataca os direitos da classe trabalhadora, Temer e o Congresso liberam os patrões do pagamento de impostos e pagam religiosamente a dívida pública aos banqueiros e agiotas.
Diante desta unidade corrupta entre os governantes e o patronato, é urgente a necessidade de unificar a luta da classe trabalhadora. Neste sentido, o GOI se soma à convocação do dia 5/12, mas alertamos que a unidade da classe para lutar só pode ser construída através de um verdadeiro Plano de Lutas a partir da base.
Entendemos que a “greve nacional” baixada por decreto pelas centrais está longe de responder a esta necessidade de luta e unidade da nossa classe. Mais uma vez os trabalhadores e trabalhadoras são “comunicados” por centrais e sindicatos, em sua maioria completamente desmoralizados e questionados pelas bases, de que devem parar o trabalho, sem nenhuma preparação prévia, sem reuniões e assembleias nos locais de trabalho, sem articulação com os movimentos populares e da juventude, sem uma campanha de massas para conquistar o apoio do conjunto da população trabalhadora. E isso ocorre após as principais centrais e direções do movimento terem desmontado a grande onda de lutas que se iniciou no início deste ano.
Um balanço das lutas de 2017
O ano de 2017 começou com uma poderosa disposição de luta da classe trabalhadora para lutar de forma unificada para enfrentar os ataques de Temer, da burguesia e seus lacaios do Congresso. As manifestações de 8 e 15 de março se massificaram de forma espontânea, mostrando a crescente radicalização da classe.
É nesse contexto que a burocracia sindical foi pressionada a convocar a greve nacional de 28 de abril. Apesar da preparação e organização insuficientes e da desconfiança em suas direções, os trabalhadores e trabalhadoras tomaram para si o 28 de abril, realizando a maior greve geral no país desde a greve geral de 1989. A classe trabalhadora mostrou a sua força e a sua consciência, conquistando o apoio da maioria da população. O governo Temer foi colocado nas cordas e os trabalhadores estavam prontos para um novo round e com disposição para nocauteá-lo. Porém, para a burocracia da CUT, Força Sindical, CTB e demais centrais pelegas já era hora de colocar fim à luta e se recusaram a marcar uma nova greve geral de 48 horas, que era o anseio e a expectativa dos trabalhadores e trabalhadoras que tinham parado em 28 de abril.
A manifestação em Brasília no dia 24 de maio demonstrou a radicalização da vanguarda das lutas, mas isso só foi possível pela atuação das organizações da esquerda (PSTU, MAIS, MES, setores do PSOL, CSP-Conlutas, Intersindical e outras organizações) que, em frente única forjada na luta, organizaram a vanguarda para a ofensiva contra o Congresso, enquanto as demais centrais vergonhosamente batiam em retirada do ato no momento do enfrentamento com a polícia.
O recuo e o desmonte da mobilização, feitos de forma consciente pelas principais centrais e sindicatos, acabou por levar ao fracasso a greve nacional de 30 de junho, que foi muito inferior ao 28 de abril, apesar da maior disposição de luta dos trabalhadores e no momento de maior crise da burguesia e do governo.
Temer se aproveitou disso e, apesar de ser repudiado por mais de 90% da população, conseguiu aprovar a reforma trabalhista e permanecer no poder. Fracassada a onda de lutas do primeiro semestre, a burocracia das centrais passou a tratar daquilo que lhe interessava: negociar com Temer e Rodrigo Maia a manutenção do imposto sindical, ou seja, dos bilhões que são arrancados à classe trabalhadora para manter os privilégios desta casta burocrática que domina os sindicatos.

As massas trabalhadoras e a vanguarda de lutas que protagonizaram os enfrentamentos do primeiro semestre, ao não disporem de uma alternativa de direção para levar à frente a luta, foram obrigadas a dar um passo atrás. Várias lutas continuam ocorrendo de forma isolada, como as greves de professores do Rio Grande do Sul e Tocantins, dos trabalhadores dos Correios, dos metalúrgicos da Chery e outras, enfrentando uma dura repressão dos patrões e do governo. Desde então, os burocratas e pelegos buscam encobrir sua traição com a marcação de “dias de luta” de fachada, sem organização nem discussão com os trabalhadores, como foram os de 14 de setembro, 10 de novembro, e agora repetem o mesmo método burocrático “decretando” a “greve nacional” de 5 de dezembro.
O papel de Lula e do PT
Este quadro não poderia ficar completo sem acrescentarmos o papel cumprido por Lula, o PT e seus aliados da Frente Brasil Popular. Durante a grande onda de lutas do primeiro semestre, Lula em nenhum momento usou a autoridade que continua tendo sobre milhões de trabalhadores para chamar a derrubada de Temer e a greve geral contra as reformas. Limita-se a fazer campanha eleitoral pelo país afora buscando capitalizar o desgaste de Temer e iludir os trabalhadores que a solução de seus problemas virá com sua reeleição para presidente em 2018. Recentemente declarou que “não tem mais idade” para gritar “Fora Temer”, como se derrubar Temer não fosse a tarefa mais urgente, tanto para os mais velhos, que estão sendo obrigados a trabalhar mais para se aposentar, como para os jovens, que são os mais massacrados pela reforma trabalhista e pela reforma do ensino médio.
Enquanto fazem discursos demagógicos para enganar o povo e usam a CUT para desmobilizar as lutas, Lula e o PT se dedicam de fato a reconstruir as alianças eleitorais com partidos e políticos corruptos, pensando unicamente em sua sobrevivência política e em se eleger para mandatos parlamentares no ano que vem.
A política seguidista da CSP-Conlutas
É preciso fazer este balanço para compreender o momento atual da luta de classes e traçar as tarefas necessárias para a retomada da mobilização. Infelizmente, as manobras e traições da burocracia sindical têm sido encobertas pela política equivocada da principal central sindical independente dos patrões e dos governos, a CSP-Conlutas, com sua tática de “unidade de ação” com a CUT, Força Sindical e demais centrais pelegas. Esta tática se transformou na prática num bloco permanente com a burocracia, que é habilmente utilizado por esta em suas manobras para convocar “dias de luta chapa branca” para encobrir sua política de fato desmobilizadora.
Para aplicar a “unidade de ação”, a CSP-Conlutas se cala diante do papel traidor da burocracia e não se coloca como polo para aglutinar os sindicatos e movimentos e vanguardas que de fato estão empenhados na luta, atrasando a construção de uma alternativa de direção classista e independente para as lutas e o movimento operário e de massas, contra a burocracia pelega.
No último congresso da CSP-Conlutas, realizado em outubro deste ano, o GOI – Grupo Operário Internacionalista – apresentou a tese Conlutas pela Base, onde propusemos uma mudança nesta orientação política da central, porém, prevaleceu a política equivocada da maioria, ligada ao PSTU. É preciso seguir esta luta no interior da central por uma orientação política correta.
Três medidas para organizar de fato a luta unificada da classe trabalhadora
Diante deste quadro é preciso apontar quais são as tarefas que podem garantir uma efetiva mobilização unificada da classe trabalhadora para enfrentar a burguesia, o imperialismo, o governo Temer e suas reformas antitrabalhadores. É preciso construir e preparar a luta pela base, junto com os trabalhadores e trabalhadoras nos locais de trabalho, para que tenham confiança na luta a partir de suas próprias forças e novas lideranças. Neste sentido, apontamos as seguintes medidas:
- Organizar a luta pela base, com democracia operária! Exigir dos sindicatos a realização de assembleias nos locais de trabalho e a formação de comandos de base para preparar a “greve nacional” de 5 de dezembro.
- Unidade pela base! Que as centrais sindicais convoquem um Encontro Nacional de Base, com delegados e delegadas eleitos/as em assembleias nos locais de trabalho, para aprovar um Plano de Lutas Unificado contra as reformas de Temer e organizar a solidariedade a todas as lutas. Que este Encontro seja organizado em conjunto com o movimento popular (especialmente o MTST e a Frente Povo Sem Medo), e os movimentos de juventude, mulheres, negros e LGBTTs.
- Exigência a Lula e ao PT: rompam suas alianças com a burguesia e os políticos corruptos! Que Lula faça um chamado à luta imediata pelo Fora Temer e pela organização de uma greve geral contra as reformas. Que se comprometa com a anulação de todas as reformas antioperárias de Temer se for eleito presidente.
Chamado ao Bloco de Oposição da CSP-Conlutas
Fazemos um chamado às organizações que compuseram o Bloco de Oposição no 3º congresso da CSP-Conlutas, em especial às correntes MAIS e NOS, assim como à corrente sindical Unidos pra Lutar e outras organizações que militam no interior da central a lutar por uma linha justa para a efetiva mobilização da classe trabalhadora e para afirmar a CSP-Conlutas como alternativa de direção contra a burocracia sindical.
Fora Temer e o Congresso corrupto!
Abaixo as reformas trabalhista e da previdência!
Por um governo da classe trabalhadora e do povo pobre, sem patrões!
Nenhuma confiança nos burocratas e pelegos!
Por uma nova direção de luta independente dos patrões e dos governos!
GOI – Grupo Operário Internacionalista (27/11/2017)
Um comentário em “Centrais decretam “greve nacional” para 5 de dezembro. É preciso um Plano de Lutas Unificado organizado pela base.”