Sandra Fortes
Quanta hipocrisia! Quanta patifaria!
Abrir WhatsApp, ligar a tv, ouvir o rádio, atravessar as ruas e ler faixas com dizeres: Feliz Dia da Mulher, desejado por empresas (que querem lucrar), políticos (que querem se reeleger) e inclusive sindicalistas pelegos (que querem seguir servindo aos patrões e governos e traindo a classe trabalhadora)…
Sobre os bombons e rosas oferecidos com os votos… melhor nem comentar. Alimentam o comércio e querem a passividade e anestesia da nossa classe.
As mulheres trabalhadoras não estão felizes. Não há como ser feliz sendo explorada, e a situação apenas piora.
Somos a maioria da população mundial. Somos a maioria da classe trabalhadora. Somos a maioria desempregada e com trabalhos precários. Somos a maioria de adultas que cuidam sozinhas da família… Somos uma maioria de mulheres trabalhadoras, pobres, moradoras da periferia.
Como ser feliz neste dia, rigorosamente igual aos outros? O desemprego nas alturas. A precarização total do trabalho. Salários muito abaixo do valor da cesta básica, com direitos trabalhistas cada vez mais reduzidos.
Como ser feliz neste dia?! Com salários que já não garantem o pagamento do aluguel, da conta de energia elétrica, da conta de água, dos medicamentos, do transporte da família… São milhões morando nas ruas, em barracas, totalmente vulneráveis. São milhões morando em áreas de risco, à mercê das enchentes, desmoronamentos ou ainda da desocupação com força policial de terrenos guardados a sete chaves para o lucro da especulação imobiliária.
Como ser feliz neste dia? Sem vagas em creches públicas de qualidade para cuidar de nossos filhos pequenos, enquanto trabalhamos? Sem segurança para nossos filhos e nossas filhas jovens, alvo preferencial da violência policial e da burguesia narcotraficante?
Como ser feliz neste dia?! Sendo obrigadas a nos locomover em transportes públicos cada dia piores e mais caros para favorecer os/as capitalistas, donos e donas das empresas que transportam trabalhadoras e trabalhadores pior do que gado.
Como ser feliz neste dia de luto por tantas mortes por doenças, por violência policial, por acidentes de trabalho, sem que o poder público garanta saúde preventiva, pública e de qualidade?
Como ser feliz neste dia, em que um dos mandatários autoritários do mundo, Putin, bombardeia a população da Ucrânia, imitando o que há décadas o Estado assassino e racista de Israel impõe à população da Palestina, e o imperialismo dos Estados Unidos, União Europeia e Japão impuseram no Iraque, Afeganistão e inúmeros povos no mundo? E assim caminham os governantes burgueses para atacar a classe trabalhadora no mundo, para manter os interesses econômicos da classe burguesa imperialista que representam.
Como ser feliz neste dia, com o aumento do racismo, do machismo, da xenofobia? Toda esta opressão, preconceito e discriminação que são alimentados para reduzir ainda mais o valor da força de trabalho, rebaixando salários sobretudo das mulheres pretas, maioria nos trabalhos precarizados, assim como dos homens negros e do conjunto da nossa classe.
Feliz dia das Mulheres? Só se for para as mulheres burguesas que, com os homens da burguesia, vivem da exploração do trabalho de mulheres e homens da classe trabalhadora. Classe de parasitas que vivem do sangue, suor e lágrimas da classe trabalhadora, sobre a qual erguem suas riquezas, suas mansões, sua boa alimentação, sua boa vida de luxos e viagens, seu poderio econômico, político e militar.
O 8 de Março, Dia Internacional de Luta da Mulher, foi criado em homenagem à luta das mulheres trabalhadoras contra a opressão e a exploração capitalista. Luta pelo fim do machismo. Luta por direitos iguais. Luta por creches públicas e gratuitas. Luta pelo fim do trabalho doméstico: creches, restaurantes e lavanderias públicas e gratuitas que livrem as mulheres do trabalho gratuito dentro de casa. Luta pelo direito ao corpo, sem criminalização e morte por interromper uma gravidez indesejada. Luta por moradia para todas/os. Luta por saúde pública, gratuita, de qualidade e preventiva. Luta pelo fim da opressão racial, sexual, de nacionalidades. Luta pelo fim do Capitalismo que explora e mata nossa classe. Luta por uma sociedade em que quem trabalha seja dona e dono dos meios de produção e tenha todos os direitos a uma vida digna: uma Sociedade Socialista, governada pela classe trabalhadora. .
Portanto, hoje é dia de luta! Relembrar, divulgar e organizar a luta da nossa classe é a tarefa das mulheres da classe trabalhadora!
[Imagem: refugiada ucraniana ferida e mulher ucraniana fazendo treinamento com arma]