A força e o entusiasmo dos movimentos sociais e populares, que saíram às ruas, fizeram panfletagens, ações e mobilizaram pessoas foi o que possibilitou os 1.080.736 votos (20,24%) que colocaram Boulos e Erundina (PSOL) no segundo turno, derrotando o candidato de Bolsonaro, Celso Russomano (Republicanos) e evitando que o segundo turno na cidade de São Paulo ficasse reduzido a uma disputa entre candidatos patronais. Esta polarização de classe na maior cidade do país é tudo o que a grande mídia e a burguesia não queriam, pois reflete, mesmo de forma distorcida nas eleições, a luta de classes entre o proletariado e a patronal.
O GOI esteve junto com a vanguarda desde o primeiro turno chamando o voto em Boulos-Erundina por acreditarmos que esta candidatura expressa as lutas e mobilizações ocorridas contra os governos federal, estadual e municipal, expressa o desejo dos setores mais conscientes da classe trabalhadora de derrotar Covas, Dória, Bolsonaro e a patronal.
Contudo, como já expressamos em nosso Manifesto de Apoio do 1º turno [linkar]: “Indicar o voto no PSOL (…) não significa dar um cheque em branco a este partido, nem a Boulos, na medida em que não temos nenhum acordo com o programa reformista que apresentam para São Paulo e para o país. (…) Queremos aproveitar o processo eleitoral para discutir de forma honesta e fraterna com todos os trabalhadores e trabalhadoras (de dentro e fora do PSOL) sobre nossas diferenças com o programa apresentado por Boulos e Erundina e a necessidade de construirmos um programa socialista e revolucionário para a cidade de São Paulo.”
Frente Classista ou Frente Ampla?
A unidade no 2º turno dos partidos que falam em nome da classe trabalhadora (PSOL, PT, PCdoB, PSTU, PCB, UP) no chamado ao voto em Boulos/Erundina está correta e, em nossa opinião, deveria ter sido construída desde o 1º turno, o que teria colocado a “esquerda” em melhores condições para derrotar Covas/PSDB e a patronal. Mais do que isso, a unidade eleitoral no 2º turno (assim como ocorreu no 2º turno das eleições para presidente, em 2018), mostra a necessidade de forjar a unidade classista dos partidos e organizações de luta da classe trabalhadora não apenas nas eleições, mas, sobretudo, no terreno das lutas diretas, na defesa do Emprego, Salário, Terra, Moradia e Direitos Sociais, Trabalhistas e Democráticos, e na luta por um Governo da Classe Trabalhadora, sem patrões.
É por defendermos esta frente classista que rechaçamos a frente ampla formada por Boulos no 2º turno com a participação do PDT, de Ciro Gomes, da Rede, de Marina Silva, e do PSB, de Márcio França. A frente com estes partidos patronais expressa a aproximação de Boulos com setores da burguesia, com “executivos do mercado financeiro e empresas de áreas como shoppings centers, aviação, tecnologia, data centers, autopeças, celulose, agronegócio” com os quais o candidato vem se reunindo, conforme noticiado pela Folha de São Paulo [linkar].
A empresária Paula Lavigne, principal mediadora destes encontros, comemorou assim os seus resultados: “O discurso que ele [Boulos] tinha sobre PPPs [Parcerias Público Privadas] era um e hoje é outro. Na questão das OS [Organizações Sociais], viu que muita coisa depende de melhorar a fiscalização.” (FSP). O reflexo desta aproximação de Boulos com o empresariado já é visível na campanha do 2º turno, como vimos no debate da CNN, de 17/11, no qual Boulos disse “não demonizar a iniciativa privada” e no debate da Band, de 19/11, em que se omitiu de defender aquilo que está escrito em seu programa de governo sobre reverter as terceirizações na educação.
A votação em Boulos-Erundina expressa os anseios de um governo voltado para atender as demandas do povo trabalhador, pobre, negro, LGBTQI e demais setores oprimidos da sociedade e Boulos é expressão desta luta como a principal liderança dos sem teto no país. Mas, para não frustrar estas demandas será necessário um governo de ruptura e enfrentamento com os interesses da burguesia e suas empresas que parasitam os recursos públicos da cidade através da privatização, terceirização, contratos, etc. Cada passo na direção de atender as necessidades da classe trabalhadora vai significar um duro enfrentamento ao monopólio patronal sobre a cidade e o Orçamento da Prefeitura em benefício de suas empresas e lucros.
Não há como governar para o povo trabalhador sem enfrentar o Balcão de Negócios da burguesia montado na Prefeitura e na Câmara. Por isso, ao buscar a conciliação com a burguesia, Boulos repete a mesma política fracassada do PT, preparando um novo governo de colaboração de classes para governar São Paulo.
Governar apoiado na mobilização e organização popular ou ficar refém da governabilidade burguesa?
Dos 55 vereadores eleitos em São Paulo, o PSOL elegeu 6 e o PT elegeu 8, totalizando 14 vereadoras e vereadores do “campo operário e popular”, o que mostra a predominância dos partidos burgueses, sobretudo da direita, na Câmara Municipal. Este fato, por si só, evidencia que a burguesia segue no controle do Balcão de Negócios, regado a corrupção, que seguirá instalado no Legislativo. A isso se acrescenta que as demais instâncias de poder seguirão nas mãos de Dória (PSDB), no governo estadual, e de Bolsonaro, em Brasília. O poder Judiciário, com sua casta de juízes parasitas, seguirá firmemente ao lado da burguesia. O mesmo podemos dizer da Polícia Militar que, sob o comando de uma maioria de oficiais bolsonaristas e fascistas, seguirá assassinando os jovens negros nas periferias e reprimindo nossas lutas, e impondo esta forma de atuar à Guarda Municipal. Enfim, os partidos e instituições estatais da ordem burguesa seguirão cumprindo seu dever de classe: garantir o aumento da exploração e da opressão do povo trabalhador.
Pensar que será possível avançar no combate à pobreza e o desemprego, na melhoria das condições de saúde, educação, moradia e saneamento, pensar que será possível avançar na defesa dos setores oprimidos da sociedade se submetendo a esta governabilidade burguesa é dar mostra de completa ingenuidade política ou de enganosa má fé.
Será preciso se apoiar na mobilização e organização popular nos bairros periféricos, nas escolas, nas empresas e repartições públicas. Será preciso dar um lugar de poder aos sindicatos, ao MTST e movimentos populares, aos coletivos da juventude, mulheres, negras e negros, LGBTQIs, imigrantes, culturais para que se faça ouvir a voz do povo que luta por seus direitos. E isso é impossível de se fazer por dentro das instituições esclerosadas do regime burguês, como são a Câmara e demais organismos acima citados.
Se nossa luta por levar a chapa Boulos-Erundina à Prefeitura for vitoriosa será chegada a hora de colocar em prática a palavra de ordem do MTST que sempre ecoa nas manifestações: “Criar o poder popular!”. Isso significa governar através dos Conselhos Populares deliberativos sobre o conjunto do orçamento público. Promover plebiscitos para que o povo se posicione diretamente sobre as medidas da Prefeitura em seu benefício, convocando a classe trabalhadora a se mobilizar para impor suas reivindicações. Através do chamado à luta nacional da classe trabalhadora, enfrentar as leis que submetem os orçamentos públicos aos interesses burgueses (como a de suposta “responsabilidade fiscal”) e as leis que nos arrancam mais e mais direitos, enfrentando os governos reacionários de Bolsonaro, Dória e demais governantes burgueses.
Será preciso hastear a bandeira vermelha no alto do Palácio Anhangabaú e mobilizar o povo nas ruas. Será preciso romper para avançar, ou se adaptar e retroceder. Será preciso construir na cidade de São Paulo um Governo da Classe Trabalhadora, sem patrões!
Para estas tarefas de nada servem o PDT, o PSB e a Rede, nem a “ala esquerda” da burguesia da Avenida Faria Lima. É preciso exigir de Boulos e do PSOL a ruptura com a burguesia.
É neste sentido que o GOI se dirige à vanguarda da campanha de Boulos-Erundina e às trabalhadoras e trabalhadores que vão votar 50 no próximo domingo:
No 2º turno Vote em Boulos-Erundina 50!
E lute por um Governo da Classe Trabalhadora, sem patrões!
GOI – 26/11/2020