Há cerca de um mês, no dia 27/7, a Justiça do Rio de Janeiro emitiu um mandado de reintegração de posse criminoso para Ocupação Stonewall Inn-CasaNem, localizada num prédio abandonado há mais de 10 anos em Copacabana. O prédio, ocupado em Julho de 2019 por um grupo de LGBTTQIAs sem teto, em sua maioria travestis, transexuais e transgêneros em situação de vulnerabilidade social, se tornou um símbolo de resistência contra os governos de Crivella, Witzel e Bolsonaro, além de ser um local onde são feitas diversas atividades culturais e desenvolvidos projetos sociais, com o objetivo de fortalecer estes setores marginalizad@s do movimento LGBTTQIA+.
A reintegração de 27/7, no entanto, não foi concretizada, pois a casa de acolhimento de pessoas LGBTTQIA+ da prefeitura do Rio já estava lotada e @s ocupantes corriam o risco de ficarem sem ter onde morar, já que não havia um local adequado para transferir @s mais de 60 pessoas que ocupam o prédio. Vale lembrar que em Maio/2020, o STF decidiu proibir as ações de despejo e reintegração de posse durante o período de pandemia do novo coronavírus. No entanto, diversos mandados de reintegração de posse já foram emitidos e realizados em diversos estados, sob alegação de que são processos iniciados antes da pandemia, como o despejo truculento e arbitrário no Quilombo Campo Grande (do MST), em Minas Gerais, a mando do governador Romeu Zema (Partido Novo).
Na manhã de ontem, 24/8, um novo mandado de reintegração foi emitido para a ocupação Stonewall Inn-CasaNem. Desde o anúncio do despejo d@s ocupantes, a CasaNem, liderada pela transativista Indianarae Siqueira, convocou o movimento LGBTTQIA+ e os movimentos sociais a resistirem a mais este ataque contra os setores oprimidos, que neste momento de crise econômica e sanitária vem sofrendo ainda mais com a opressão e exploração capitalistas, intensificados pela opressão racista, machista, xenófoba e LGBTTQIAfóbica.
Não a toa, o ato de ocupar prédios e terras abandonadas se tornou um movimento de autodefesa de muitas famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade, como o próprio movimento LGBTTQIA+, as quais muitas de nós, abandonadas por nossas famílias e sem perspectiva de emprego e salários dignos, pelo preconceito que sofremos diariamente, ficamos sem ter onde morar.
No dia da reintegração, Indianarae ressaltou a importância de que “os ativistas venham pra cá, pois a gente está precisando de reforço, tá precisando resistir, a gente vai resistir, porque a Casa Nem se tornou um símbolo, um símbolo de resistência em Copacabana e um símbolo de resistência contra esse desgoverno que está no poder. Então é isso gente, a gente tá precisando da galera aqui. Agora não é hora de nota de repúdio. Máscara, álcool em gel e resistir!”.
A Ocupação Stonewall-Inn/CasaNem vem ganhando destaque pelo seu trabalho social. Somente durante a pandemia, mais de 17 mil máscaras foram confeccionadas, numa parceria da ocupação com mulheres da periferia da zona norte do Rio de Janeiro, para distribuir gratuitamente para pessoas em situação de vulnerabilidade social e de rua. Diante da covardia da Justiça, Governo e da Polícia do Rio de Janeiro, milhares de pessoas, ativistas e artistas do movimento se posicionaram nas redes em defesa da Ocupação, criando inclusive um fundo de doações. Mas a principal e mais importante luta foi feita por dezenas de ativistas que foram até o prédio e fizeram um cordão humano em frente à Ocupação, mantendo-se firmes na defesa do direito daquel@s ocupantes de permanecerem ali.
Infelizmente, a correlação de forças no local estava desfavorável para o nosso lado e a reintegração foi feita. Porém, não fosse rápida mobilização, organização e aliança dos movimentos LGBTTQIA+ com outros setores dos movimentos sociais, partidos e ativistas, num heroico exemplo de autodefesa, não teria sido possível realizar um acordo que visa garantir um novo local para que @s ocupantes possam morar.
“Após a resistência interna e externa em prédio ocupado, governo do Estado destina espaço para ONG Transrevolução, no qual a Casa Nem é um projeto de acolhimento. Acordos foram feitos com garantias aos direitos dos moradores”, revelou a declaração publicada em rede social da CasaNem. O governo, no entanto, ainda não cumpriu com sua parte do acordo e as LGBTTQIA+ da ocupação Stonewall Inn-CasaNem seguem aguardando em uma escola de Copacabana um espaço que seja viável para el@s morarem.
O GOI segue divulgando e se solidarizando com a luta d@s ativistas e ocupantes da CasaNem. Saudamos aqui também às ativistas e militantes que, assim como fizeram o grupo de mulheres que garantiu uma rede de apoio para a realização do aborto da menina de 10 anos estuprada pelo tio, se organizaram em defesa da ocupação e do direito à moradia d@s ocupantes. Esse é o verdadeiro espírito de Stonewall e são esses métodos de luta e resistência da classe trabalhadora que precisamos resgatar para se enfrentar contra os ataques dos governos e patrões aos nossos direitos!
Toda solidariedade à Ocupação Stonewall-Inn/CasaNem e demais ocupações da classe trabalhadora e setores oprimidos!
Não aos despejos e reintegrações de posse! Pelo direito à moradia!
Viva a luta do movimento LGBTTQIA+ organizado!
Resgatar o espírito de luta e resistência de Stonewall e a autodefesa do movimento LGBTTQIA+!
Unificar as lutas em defesa dos direitos, salários, empregos, moradia, terra e serviços públicos!
Fora Bolsonaro e Mourão!
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Um comentário em “A reintegração de posse da Ocupação Stonewall Inn-CasaNem e a importância da autodefesa do movimento LGBTQIA+”