Por Sandra Fortes
Há inúmeros acontecimentos na luta de classes, cuja falta de resposta é a própria resposta. Dentre estes, a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes: “Quem matou Marielle e Anderson?”
Digo que a falta de resposta é a resposta porque todas as “infrações de leis” cometidas por pobres, pret@s, periféric@s são rapidamente identificadas, divulgadas e punidas. Basta que olhemos para o sistema carcerário: milhões de pretos, pobres, periféricos, inocentes, presos, fora os que não sobreviveram ao julgamento impiedoso da polícia que assassina nas ruas.
A recente divulgação de uma sentença de 2016 da juíza “Lissandra Reis Ceccon, cujo espanto por um “ladrão assassino” não ter estereótipo de “bandido”, por possuir “pele, olhos e cabelos claros”, evidencia a análise, julgamento e aplicação da lei por parte da justiça burguesa que tem um olho aberto para enxergar e punir “bandidos” pobres, pretos e periféricos, ao mesmo tempo que os verdadeiros bandidos ricos, brancos, proprietários de empresas, fábricas, comércios e bancos (ou quem comete crimes a mando destes) nunca são enxergados pela justiça burguesa, que para estes é cega. A justiça ou não os vê, ou não os pune, ou a punição é relâmpago, ou branda, saindo rapidamente da cadeia, porque estão doentes, porque têm filhos pequenos, porque um monte de desculpas. Tornozeleiras eletrônicas e prisões domiciliares em mansões e condições que nenhum ou nenhuma pobre vai alcançar durante sua breve ou longa vida, são os “castigos” que recebem @s burgues@s, quando recebem. Exemplos disso são as prisões de Eike Batista, Marcelo Odebrecht, o médico estuprador Roger Abdelmassih ou ainda Adriana Ancelmo.
A classe trabalhadora mundial que diariamente dá seu sangue, seu suor e sua vida para enriquecer empresári@s dos agronegócios, das indústrias, dos comércios, dos bancos, sabe que a Justiça para nós não existe. São aluguéis altos, barracos apertados, viadutos como moradia. São marmitas e pratos carentes de nutrientes, caros, que nossos salários compram cada vez menos. É a fome! São transportes coletivos caros, lotados, desumanos. São postos de saúde e hospitais públicos sem nenhuma condição de trabalho ou atendimento. É a cotidiana perseguição policial de pobres, jovens, pret@s, lgbtts, imigrantes, indígenas. É a restrição da nossa liberdade!
Cadê a Justiça d@s juízes de toga, com pompas, com salários e auxílios aluguéis impublicáveis, com holofotes para julgamento dos criminosos e corruptos, que agora acha justo aumentar nosso tempo de trabalho, de contribuição e de idade para aposentar e para trabalhar nas condições cada vez mais difíceis em que trabalhamos, com a Reforma da Previdência de Bolsonaro e dos patrões? Aumentam nosso tempo de trabalho, reduzem o valor dos benefícios previdenciários de milhões de trabalhadoras e trabalhadores, enquanto perdoam 500 bilhões de reais de dívidas de empresas com a Previdência.
Esta Justiça completamente burguesa não é das trabalhadoras e trabalhadores! É para os ricos e poderosos, como os diretores da Vale que assassinaram conscientemente centenas de trabalhadoras e trabalhadores em Mariana e Brumadinho. Até agora não houve e não haverá punição adequada ao tamanho do crime: cadeia para a direção da empresa e reestatização da Vale, sem indenização, sob controle dos trabalhadores e trabalhadoras. Assim como a Vale, inúmeras empresas no mundo matam trabalhadoras e trabalhadores apenas para aumentar seus lucros.
Quem matou Marielle e Anderson?
Quem matou Amarildo?
Quantos anos de cadeia pegaram os policiais que arrastaram Cláudia na viatura?
E o playboy que atropelou, arrancou o braço do trabalhador e jogou no rio?
Cadê o Thor Batista que matou um trabalhador ciclista?
Por que a direção da Vale não está na cadeia?
Quem punirá os responsáveis pelas milhares de mortes de africanos no mar Mediterrâneo, buscando chegar na Europa à procura de trabalho?
Quem punirá o estado assassino de Israel pelos assassinatos diários do povo palestino?
Uma coisa tem em comum os crimes citados acima: foram e são cometidos por burgueses e burguesas, ric@s, proprietári@s, em nome do Capitalismo, para aumentar os lucros, o acúmulo de riquezas. Portanto sua “justiça” não os vai punir.
A lei e a punição existem apenas para a Classe Trabalhadora. Prova disso também, além das cadeias lotadas de pobres, pret@s e periféric@s, são as cercas e muros que impedem pelo mundo a passagem de pobres e oprimid@s pelas fronteiras impostas pelo Imperialismo.
A burguesia temia Marielle Franco. Preta, pobre, lésbica, periférica, de luta, vereadora pelo PSOL que no parlamento e nos movimentos sociais investigava e lutava contra poderosos e suas milícias no Rio de Janeiro. Assassinos e exploradores de milhares de jovens, pret@s, pobres e periféric@s, assassinos de Amarildo, de Cláudia, de tantas e tantos outros de nossa classe.
Portanto, nenhuma confiança na Justiça burguesa para identificar e punir os assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes, barbaramente assassinados em 14 de março de 2018. Nenhuma confiança na Justiça Burguesa para proteger a vida das lutadoras e lutadores da nossa Classe!
A segurança da vida d@s que lutam e são perseguid@s e ameaçad@s pela burguesia tem que ser feita pelas mãos da nossa classe organizada, pelos sindicatos, movimentos e partidos da nossa classe. “Paz entre nós! Guerra aos senhores e senhoras do Capital”. Abaixo toda forma de discriminação e preconceito em nossa classe que deve romper com o racismo, machismo, lgbttfobia, xenofobia e tudo que desagrega a nossa unidade para a luta.
A justiça dos assassinos das mulheres, homens e crianças da nossa classe só será feita com a retirada das terras, fábricas, máquinas, transportes comércios, bancos e armas das mãos da burguesia. Esta classe de parasitas que se nutrem do nosso sangue e suor: quando trabalhamos e produzimos as riquezas que nos “roubam”, ou quando a incomodamos ou ameaçamos suas propriedades com nossas lutas.
Marielle vive em nossas lutas por uma sociedade sem exploração, sem opressão, uma Sociedade Socialista!
Marielle vive em nossas lutas contra a Reforma da Previdência de Bolsonaro e dos patrões!
Marielle vive na luta pela estatização da Vale e de todas as empresas devedoras da previdência.
Marielle vive nas lutas por Lula livre!
Marielle vive nas nossas lutas pelo fim do Capitalismo, pelo Socialismo!
