Carta Aberta a Lula e Boulos É urgente construir a unidade da classe trabalhadora, sem patrões, nas lutas e nas eleições

Dirigimo-nos a vocês, candidatos à presidência pelo PT e pelo PSOL, com o propósito de exigir uma política de unidade da classe trabalhadora, sem patrões, nas lutas e nas eleições. A liderança histórica que Lula ainda exerce sobre milhões de trabalhadores e trabalhadoras e sobre as principais organizações sindicais, populares e camponesas do país, e a jovem liderança de Boulos, do MTST, principalmente sobre a vanguarda ativista das lutas sociais, lhes impõe uma enorme responsabilidade sobre o futuro do povo pobre e trabalhador do país.

A crise econômica, social e política se aprofunda em níveis nunca vistos desde o final da ditadura militar. O regime “democrático” vigente, corrupto pela própria natureza da classe burguesa que o comanda, apodrece a olhos vistos diante do povo, e é cada vez mais impotente para contornar os conflitos sociais que se agudizam.

A pequena burguesia e a “classe média” urbana e rural se desesperam em busca de um salvador da pátria. Candidatam-se a este papel personagens das instituições mais autoritárias do Estado burguês: o juiz Moro, o novo “caçador de corruptos”, legítimo representante da casta de parasitas do poder Judiciário; o capitão Bolsonaro, o “mito” da direita militarista, expressão do renascente protagonismo das Forças Armadas na vida nacional. A “Operação Lava Jato” e a intervenção militar no Rio de Janeiro são exibidos como exemplos de soluções para os problemas nacionais. Enquanto isso, o assassinato de Marielle e Anderson, assim como de inúmeros ativistas das lutas sociais, continuam impunes.

O povo pobre e trabalhador perde a cada dia as esperanças nesta falsa democracia. Esfarelam-se as expectativas de melhoria nas condições de vida e de trabalho pela via pacífica das eleições e da aliança entre capital e trabalho, sem conflitos e rupturas revolucionárias, que alimentaram o sonho de milhões de trabalhadores e trabalhadoras na política do PT por mais de 30 anos. Esta política de conciliação de classes e do “governo para todos”, levada à prática pelos governos da Frente Brasil Popular de Lula e Dilma, se demonstrou falida e é responsável pela situação crítica em que se encontra hoje a classe trabalhadora.

O tempo das pequenas reformas e das concessões miseráveis para quem trabalha, o mercado de ilusões da ascensão social através de diplomas, cotas e empreendedorismo fica cada vez mais no passado. O que se impõe é a dura realidade da crise mundial capitalista: o desemprego, o subemprego precarizado, os salários arrochados e miseráveis, a destruição dos direitos trabalhistas e sociais.

Para salvar as grandes corporações capitalistas da crise, os governos burgueses de todo o mundo já queimaram trilhões de dólares nos chamados “planos de resgate”. O mais recente é o “empréstimo” de 50 bilhões de dólares do FMI ao governo da Argentina para salvar os grandes abutres nacionais e estrangeiros que especulam com a dívida pública do nosso país vizinho. Esta massa incalculável de recursos que é repassada para o 1% de multimilionários do planeta está sendo retirada dos serviços sociais públicos da previdência, do seguro desemprego e de acidentes do trabalho, da saúde, da educação, das creches, da moradia popular, do saneamento, do transporte coletivo, direitos sociais que são atacados diariamente pela Rede Globo e demais órgãos da imprensa burguesa como os grandes vilões do chamado “déficit público”. Direitos conquistados por lutas históricas da nossa classe, como a legislação trabalhista e a legislação social da Constituição de 1988, estão sendo extintos pelas “reformas”, como a trabalhista, a da previdência, a do ensino médio, feitas por Temer, a exemplo de Macri e outros governos anti trabalhadores pelo mundo afora.

O imperialismo sem máscaras de Donald Trump exige nada menos que a submissão pura e simples dos povos aos ditames da burguesia dos Estados Unidos e seus sócios menores da Europa, Japão, China e Rússia, donos e senhores do capital e das armas.

O famigerado governo Temer, nascido da manobra do impeachment contra Dilma, representa a volta ao governo dos setores mais parasitários e entreguistas da burguesia brasileira, que buscam sobreviver como vassalos rentistas do grande capital imperialista, aprofundando a política de privatização e desnacionalização das riquezas e da soberania nacional (vejam o caso recente da Embraer).

A classe trabalhadora e o povo pobre e oprimido vêm livrando duras batalhas em defesa de suas condições de trabalho e de vida. Greves e ocupações de terras ocorrem nas cidades e no campo. As mobilizações do primeiro semestre do ano passado, que culminaram na greve geral de 28 de abril, mostraram a força da classe trabalhadora organizada e obrigaram o governo e o Congresso a adiarem a reforma da previdência. A recente mobilização dos caminhoneiros, apesar das tentativas de sua instrumentalização pela patronal e pela direita, conquistou o apoio da esmagadora maioria da população e desferiu um duro golpe contra a política econômica e contra o governo.

Diante deste quadro de acirramento da luta de classes e de graves ameaças à classe trabalhadora, à juventude e ao povo pobre, qual tem sido a política do PT e do PSOL, os partidos com mais influência na classe trabalhadora e nos movimentos sociais, e de vocês, Lula e Boulos, suas principais lideranças?

Lula, o PT e seus aliados da Frente Brasil Popular atuaram nos momentos mais agudos com uma política de desmobilizar a classe trabalhadora. Quando cresciam nas ruas as manifestações por Fora Temer, Lula declarou que “não era hora” de derrubá-lo. A CUT, junto com as demais centrais e sindicatos (Força Sindical, CTB, UGT, etc) não deram sequência à luta após a grande greve geral do ano passado. Durante o movimento dos caminhoneiros poderiam ter chamado uma greve geral pelo Fora Temer, mas se calaram. O resultado desta política é que Temer, mesmo repudiado por mais de 90% da população, sobreviveu no poder e vai chegando ao final do mandato impondo retrocessos importantes, o maior deles é a reforma trabalhista.

E Lula está preso há mais de 100 dias numa cela em Curitiba, condenado de forma fraudulenta e autoritária pelo juiz Moro e seus apaniguados do TRF-4 e dos tribunais superiores. Apesar da mobilização da vanguarda ativista em sua defesa e da simpatia dos setores mais conscientes do proletariado, que consideram injusta e unilateral a sua prisão, Lula não se apoia na mobilização de massas para enfrentar seus algozes. Ao contrário, segue alimentando esperanças de que algum setor do Judiciário vai libertá-lo da prisão e viabilizar sua candidatura. O “solta e prende” do dia 8 de julho passado deixou evidente o resultado desta política: o Judiciário segue obediente à burguesia dominante, que quer manter Lula na cadeia para impedi-lo de se candidatar a presidente, deixando assim o caminho livre para eleger um candidato ou candidata plenamente “alinhado com o mercado”, como Bolsonaro, Alckmin, Meireles, Ciro, Marina, que dê continuidade ao “ajuste imperialista” de Temer.

As manobras jurídicas da burguesia para tirar do páreo o candidato preferido por mais de 30% do eleitorado (segundo as próprias pesquisas dos institutos burgueses), evidenciam que as eleições de outubro são uma grande fraude. Este é o sentimento que vai tomando conta dos milhões de trabalhadores e trabalhadoras que querem levar Lula de volta ao governo.

É neste contexto que Guilherme Boulos e o PSOL, apesar de se apresentarem como “alternativa para superar o lulismo”, submetem-se completamente ao imobilismo imposto às lutas por Lula e a FBP, não apresentando nenhuma alternativa para a mobilização independente da classe trabalhadora. Apesar de acusarem que a prisão de Lula é um “atentado à democracia”, seguem fazendo sua campanha eleitoral como se estivéssemos numa situação normal, como se as eleições sem Lula não fossem uma fraude. Não apresentam nenhuma política para a unidade classista da classe trabalhadora nas lutas e nas eleições. Não exigem de Lula e do PT que rompam suas alianças com a burguesia e seus partidos, deixando-os à vontade para seguir aplicando sua política de conciliação de classes.

Enquanto a direita burguesa militarista e fascista ganha terreno e se unifica em torno à candidatura do capitão Bolsonaro, e os partidos burgueses tradicionais buscam se unificar em torno de um candidato que se apresente como alternativa de “centro”, os partidos que falam em nome da classe trabalhadora, e seus candidatos mais expressivos, Lula e Boulos, se apresentam candidamente desunidos nas eleições, facilitando à burguesia a tarefa de eleger um governo que dê continuidade aos projetos de Temer.

É por isso que nos dirigimos a vocês, Lula e Boulos, para exigir que assumam a responsabilidade imposta por sua liderança sobre os movimentos organizados, exigindo-lhes que chamem a unidade da classe trabalhadora, sem a participação de partidos e políticos burgueses, nas lutas e nas eleições. Unidade que, em nossa opinião, deve se materializar em uma chapa com Lula presidente e Boulos vice para as eleições de outubro.

Esta unidade classista pode ser construída num grande Encontro Nacional da Classe Trabalhadora e dos setores oprimidos, que reúna os partidos e correntes políticas da classe trabalhadora (PT, PSOL, PCdoB, PSTU, PCB, PCO, etc) e os movimentos de luta sindicais, populares, camponeses, da juventude, das mulheres, negros, indígenas e LGBTTQIs, para forjar uma Frente Classista da Classe Trabalhadora, sem patrões, para enfrentar e derrotar a ofensiva da burguesia e do imperialismo sobre nossos direitos e liberdades democráticas e lutar por um Governo da Classe Trabalhadora, sem patrões.

Lula e Boulos, esta é a responsabilidade que lhes cabe diante da grave crise nacional.

Fazemos um chamado aos ativistas de vanguarda das lutas que exijam esta política classista a seus partidos, organizações e dirigentes.

GOI (20/7/2017)

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